terça-feira, 24 de maio de 2011

A primeira barbearia de Juazeiro - Por Fátima menezes

“Juazeiro começou a crescer, depois dos chamados "Milagres de Juazeiro". O povo começou a afluir para a região e o povoado começou a evoluir tão rápido que, em um ou dois anos, seu aspecto melhorou dez vezes mais do que nos 23 anos antes da chegada do Padre Cícero. Ele às vezes relembrava com saudades o Juazeiro de 1872, quando aqui chegou e certa vez contou a meu avô, como era a primeira barbearia, da cidade naquela época: embaixo de duas grandes árvores, um juazeiro e uma tamarineira, um velho barbeiro, vindo de Missão Velha, montou sua barbearia. Ali chegava o freguês, sentava-se no banco que era uma velha moenda de engenho. O barbeiro ordenava logo que o caboclo tirasse a camisa. Ao cortar o cabelo do indivíduo servia de escova a própria camisa do cliente, com a qual dava o mestre barbeiro uma tremenda surra nas costas do cabra, para tirar o cabelo que tinha sido cortado. Depois a barba, era um Deus nos acuda. Um velho prato de barro, cheio de água às vezes já suja de outras barbas, molhava nele um pedaço de sabão de tingui e passava no rosto do paciente, que a estas alturas não podia ser chamado de outra coisa. Em seguida desfolhava a velha e cega navalha no rosto do cabra, mandando que fizesse bochechos e metia o aço a tirar a barba, pele e o mais que encontrasse. Quando terminava a operação, ouvia o barbeiro esta reclamação: Devíamos ter nascido sem barbas, não era compadre?
    Isso era tão comum, que em nada alterava a paciência do Mestre barbeiro. O pobre diabo, porém, ao fazer esta queixa, corriam lágrimas dos olhos, porque onde não estava sem couro, minava sangue... e entre gargalhadas concluía o Padre Cícero dizendo o seguinte: "Daí a razão meu camaradinha porque os mais antigos só se barbeavam de 15 em 15 dias, quando não conservavam barbas enormes". (Extraído do livro O outro lado da história do Juazeiro, de Fátima Menezes).

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