sábado, 18 de junho de 2011

Padre Cícero visto pelos sábios

PADRE CÍCERO VISTO PELOS SÁBIOS - I
Suenon Bastos Mota

Mantenho valiosos apontamentos oriundos de estudos e pesquisas procedidos pelo saudoso Desembargador Valdetário Mota Pinheiro Mota a respeito de conceitos emitidos por sábios, estudiosos e escritores sobre o Padre Cícero. Percebe-se que o Desembargador Valdetário, então Juiz de Direito da comarca de Juazeiro do Norte, no período de 1958 a 1962, pretendia ampliar essa pesquisa, para publicar trabalho mais completo a respeito do Patriarca do Nordeste.
Os apontamentos deixados pelo conceituado magistrado merecem ser dados ao conhecimento do público. É o que se passa a fazer:
O escritor Jáder de Carvalho, identificando Padre Cícero como pregador de ideias religiosas que só recomendavam o bem, narra em Aldeota – pág. 49, “que Vicente e Chicó, personagens do romance, ouviram do Padre Cícero, na benção vespertina, falar contra o furto, contra a mentira, lembrando o levita que sua missão na terra era espalhar o bem e plantar a paz entre os homens”.
Moesia Rolim, em artigo publicado no Jornal o Povo, edição de 13.11.34, referindo-se ao grande apóstolo de Juazeiro, diz que o mesmo “pregou e ensinou o evangelho da ação benfazeja e da bondade pregada como uma virtude cristã, concluindo que a palavra do Padre era ungida de doçura e repassada de bondade, deixando cair parábolas de redenção”.
Segundo o Professor Antônio Martins Filho, o Padre Cícero humilde, virtuoso, abnegado e bom, preenchia todas as suas horas com orações, com pregações ou com o trato de outros misteres que se relacionassem com a salvação de outros  fiais ( in O Ceará, 2ª Edição, pág.285).
Jáder de Carvalho, prefaciando o livro de Otacílio Anselmo, O Padre Cícero: Mito e Realidade, disse que “o Padre era amigo dos paroquianos e se desvelava em cuidados e conselhos, seguindo passo a passo as ovelhas do repanho. Erige-se, aos poucos, a fama de bom, de caridoso, de conselheiro é pastor e pai.”(Jornal O Povo, edição de 19.02.66).
O escritor e historiador Abelardo Montenegro, em História do Fanatismo Religioso do Ceará, pág. 50, proclama que Padre Cícero e José Marrocos levaram vida ilibada, tinham  espírito do despreendimento e praticavam atos de amor fraternal da mais pura caridade cristã.
Padre Cícero, missionário do bem, no conceito  de Padre Antônio Vieira, o escritor cearense, “foi sacerdade como Cristo com corpo de homem e alma de santo, levita humilde, obediente e puro, crucificado no lenho da injustiça pela incompreensão e inveja de seus próprios irmãos de ofício”.
 
PADRE CÍCERO VISTO PELOS SÁBIOS - II
Suenon Bastos Mota

Retorno aos apontamentos e pesquisas deixados pelo Desembargado Valdtário Pinheiro Mota, reveladores de testemunhos registrados por renomados estudiosos  sobre  Padre Cícero, o inesquecível sacerdote de Juazeiro, que é sempre definido como possuidor de virtudes excepcionais.
De uma crônica escrita por Rachel de Queiroz, no ano de 1944, tem destaque a narrativa  seguinte: “Na hora da benção à multidão o Padre Cícero aconselhava,  quem matou, não mate mais; quem roubou não roube mais, quem tomou mulher alheia, entregue a mulher alheia e faça penitência. Não briguem, não bebam, não façam desordem; que a luz  de Nosso Senhor não gosta de assassinos e nem de desordeiros” (do Livro- A Donzela  de Moura Torta, pág. 37).
Em trabalho publicado na Revista Itaytera (Crato), Vol. IV, Pág. 189, o eminente Paulo Elpídio de Menezes, identifica o Patriarca de Juazeiro e do Nordeste, na primeira fase de sua vida religiosa, como taciturno, sem vaidade, desprendido, recebendo esmolas em vez de dinheiro pelos sacramentos ministrados, com sua batina rota. Portador de qualidades tão encarecidas pelo povo, não foi difícil Padre Cícero se tornar merecedor  do halo de santidade que ainda lhe  abroquela a alma.
De um artigo de Dom José Delgado, Arcebispo de Fortaleza, depois de destacar as calúnias de que Padre Cícero foi vitima, faz destacar: “ A suspensão pela Igreja, como também a condenação, não significam um pronunciamento infalível, e sim uma medida disciplinar. No caso de Juazeiro, as penas se tornaram muito mais severas em consequência da revolução de 1914, em que foi exageradamente envolvida a responsabilidade do Padre Cícero.  Nem mesmo essas penas representam Juízo inapelável  sobre as suas virtudes. Faz-se necessário ter diante  dos olhos o que  realmente esteve  sempre diante  dos olhos do discutido sacerdote. Condenado e suspenso, ele se consolava  recordando iguais provocações que tinham sofrido grandes santos,  como Santa Joana D'Arc que, depois  de horrivelmente injustiçada, foi reconhecida inocente  e elevada às honras dos altares. Com medo de Roma os seus melhores amigos e colegas o abandonaram. Seu único arrimo foi o povo  bom do sertão, mais ingênuo e capaz de ajudá-lo como cumpria. Apesar de tudo, nunca se desviou da fidelidade ao Evangelho. Guardou  e fez guardar o patrimônio  da doutrina cristã “(Jornal A Fortaleza, edição de 10.03.63).
Lourença Filho, afamado educador, achou valioso consignar no seu livro “ Juazeiro do Padre Cícero”, pág. 50, que em  Juazeiro lhe venderam uma oração do Padre, cuja tônica era um apelo à paciência.
O  próprio Desembargado Valdetário registrou que não há exagero em dizer que  muita gente tem  o Padre Cícero como um varão  privilegiado e há quem suponha seja ele uma figura de Abraão. Ao patriarca bíblico disse o Senhor, como teria dito séculos depois, ao Padre Cícero, filho do Crato: “ Sai  de tua terra e de tua parentela e vem para a terra  que eu vou  te mostra e eu farei sair de ti(de tua bênção, diríamos) um grande povo e te abençoarei e engrandecerei o teu nome e será bendito” (Gênesis, XII, 1 e 2).

PADRE CÍCERO VISTO PELOS SÁBIOS - III

Suenon Bastos Mota

Volto a dar publicidade aos estudos  e anotações a respeito do Padre Cícero vistos pelos sábios, os quais foram anotados pelo eminente Desembargador Valdetário Pinheiro Mota, ex-Juiz de Direito da comarca de Juazeiro do Norte, a Meca do Cariri, onde continua sempre lembrado pela postura de retidão, humanidade e amante da Justiça como sempre foi.
Padre Cícero, amante da paz e da ordem procurou sempre orientar os fiés para manter obediência às autoridades civis e eclesiásticas. Tal como o bom pastor, descrito em alegoria  no evangelho(S. João, II, I a 5), procurou  sempre encaminhar  os que lhe procuravam e ouviam ao mesmo rebanho, que é a Igreja.
O jornalista Lauro Reis, em 1934 inseriu no seu livro - “Padre Cícero” o seguinte comentário alusivo à emancipação da comuna juazeirense: “entrementes  o  Padre trabalhava junto aos chefes dos municípios sul-cearenses para que os movimentos armados, que sempre tinham por finalidade a deposição de um Prefeito, fossem relegados ao esquecimento pudesse a paz trazer o progresso e o sossego ao seio da família caririense”. Registrou, ainda, o sobredito jornalista, na mesma obra, pág. 44, que “o Patriarca, no ansejo da festa da autonomia, conseguiu dos chefes municipais da região um pacto de paz cujo resultado foi a cessação das desordens”.
O Padre Manoel Macêdo (falecido com o título de Monsenhor) que foi destemido  no combate à união do Padre Cícero com  Dr. Floro Bartolomeu, reconheceu no Patriarca a liberdade de opinião de apreciação, como prova do respeito aos direitos humanos. O dito Padre Manoel Macêdo, em Juazeiro em Foco,pág. 86, narra que  Padre Cícero lembrava “que que ver e calar era  o cárcere dos que não se conformavam em apoiar  os caprichos dos mandões”.
José Ferreira de Menezes, velho e conceituado advogado do Cariri, que conviveu na intimidade do Padre Cícero, servindo-lhe como competente secretário, costumava repetir que aquele  sacerdote aconselhava aos que revelavam tendência para delinquência,  que não entrassem na senda do crime pela  porta da vingança.
Da mesma forma o nonagenário José Bernardino Leite, antigo advogado do Estado e que residiu em Barbalha  e em Juazeiro, prestou serviços profissionais ao Padre Cícero, em declarações consignadas no Jornal O Povo, edição de 05.09.64, testemunhou que: “ficou conhecendo de perto as suas virtudes e bondades de seu coração”.
O Dr. Fernandes Távora, estudando a personalidade  do Padre Cícero, em trabalho publicado na imprensa local, expediu conceitos como estes: I – Não recebendo  qualquer importância pelos serviços eclesiásticos vivia como verdadeiro apóstolo, das pequenas dádivas de gêneros alimentícios que os fiéis espontaneamente entregavam à caseira  e suas mãos não tocavam em dinheiro; II – O Padre era  homem de ótimas qualidades. Dava esmolas, protegia aos que lhe pediam amparo contra os poderosos, comovia-se  ante a perseguição aos judeus  e aconselhava  a todos a ordem, a honra e o trabalho; III -  as suas  ordens  aos romeiros eram terminantes,  no sentido de respeitarem a propriedade e a honra das famílias; IV – Com sua  autoridade moral evitou graves danos às populações meridionais do Estado.
No conceituar do estudioso e pesquisador Padre Neri Feitosa, “Padre Cícero era o enviado de Deus e representava  os anseios do povo de Deus. Ele é que era aceito, amado, amparado”(Padre Cícero e a Opção dos Pobres, pág.44).
Ante o que realizou e em razão dos extraordinários dons  do inesquecível  Patriarca do Nordeste e de sua permanente fidelidade à doutrina cristã, permito-me recorrer ao Livro Sagrado, para repetir o que disse Nicodemos ao Rabi  da Galiléia: “Meste, sabemos que  foste enviado por Deus para ensinar, porque  ninguém pode fazer estes milagres que tu fazes, se Deus não estiver com ele” (S. João, III,2).
_________________
Obs.: Trabalhos publicados no Jornal Tribuna do Ceará, edições de 13.07.1997, 20.07.1997 e 27.07.1997, respectivamente. Suenon Bastos Mota é desembargador, foi Juiz de Direito em Juazeiro do Norte, filho do saudoso Desembargador Valdetário Pinheiro Mota.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Decreto de 1939 muda nomes de ruas de Juazeiro

Prefeitura Municipal de Joazeiro
ESTADO DO CEARÁ
Decreto nº 29, de 4 de outubro de 1939
Fixa os nomes das ruas, travessas, praças, largos, becos e   subúrbios   desta  cidade.

O cidadão Antônio Pita, Prefeito deste Município, usando das atribuições previstas no Art. 12 do decreto-lei, federal n. 1.302 de 8 de abril da 1939, e,
- considerando que os nomes dados, em parte, de modo errôneo, a ruas, praças, largos, travessas, becos e subúrbios desta cidade não obedecem a uma determinação legal e existem em virtude do costume antigo;
- considerando que pode ocasionar confusões nos serviços de Administração desta cidade ou de suas respectivas correspondências particulares, a existência de ruas e praças com nomes semelhantes, como se verifica na mesma;
- considerando que certos nomes empregados para designar ruas ou praças desta cidade estão em desacordo com a técnica do urbanismo moderno e precisam ser substituídos;
- considerando que em tais casos impõe-se à Administração deste   Município a necessidade de fazer cessarem estas irregularidades,
Decreta:
Art. 1º - As ruas, praças, largos, travessas, bêcos e subúrbios desta cidade passam a ser designados pelos nomes seguintes, dos quais muitos já eram adotados pela denominação usual anterior:                                                                           
Rua São José, Rua Padre Cícero, Rua São Pedro, Rua Padre Pedro Ribeiro (antiga Rua da Matriz), Avenida Dr. Floro Bartolomeu, (antiga Rua Nova), Rua Dom Pedro II (antiga Rua do Cruzeiro), Rua São Francisco, Rua da Conceição, Rua Santa Luzia, Rua São Sebastião, Rua São João, Rua Santa Clara, Rua Santo Antônio, Rua José do Alencar (antiga Rua do Limoeiro), Rua José Marrocos, Rua Duque de Caxias (antiga Rua dos Passos), Rua Santa Rosa, Rua Santa Cecília, Rua do Rosário, Rua das Dores, Rua São Marcos, Rua Caramuru (antiga Rua da Fé), Rua Dr. Leandro Bezerra (antiga Rua do Salgadinho), Rua São Paulo, Rua 7 de Setembro (antiga Rua da Gloria), Rua Dr. Francisco Sá (antiga Rua São Miguel), Rua São Luiz, Rua São Bento, Rui São Benedito, Rua São Bernardo, Rua Santa Izabel, Rua Santa Teresa, Rua São Domingos, Rua São Jorge, Rua Dom João VI (ao norte da Clayton), Rua 22 de Julho (antiga Rua do Seminário), Rua Santa Ana, Rua Brasil (antiga Rua Todos os Santos), Rua Santos Dumont (antiga Rua do Horto), Rua São Roque, Rua D. Pedro I (antiga Rua da Boa Vista), Rua Machado de Assis (antiga Rua da Luz), Rua São Cândido, Rua Santo Agostinho, Rua São Joaquim, Praça Almirante Alexandrino, Praça da Feira Nova, Praça dos Militares (ao norte do Quartel da Policiai), Praça Carlos Gomes, Praça 24 de Março, Praça Rui Barbosa (antiga Praça São Francisco), Praça Araújo Viana (antiga Praça São Luiz), Praça Soares Moreno (antiga Praça Santa Ana), Praça dos Bandeirante (antiga Praça Santo Antônio), Praça São Vicente, Praça da Independência (antiga Praça da Glória), Praça Monsenhor Pedro Esmeraldo (antiga Praça da Matriz e Rua do Brejo), Largo da Saudade (antiga Rua do Cemitério), Travessa Isabel da Luz, Travessa Mestre Pelúsio, Travessa José Leandro, Travessa Osvaldo Cruz, Travessa dos Guaranis (tida como parte da Rua São Joaquim), Travessa Tiradentes (antiga Rua da Cacimba Nova), Travessa Castro Alves (conhecida por Travessa 7 de  Setembro), Praça dos Salesianos (antiga Praça Pio X), Travessa Pinto Madeira (antiga Rua da Aurora), Travessa dos Inválidos, Beco dos Melos (antiga Rua da União), Beco do Cemitério. Avenida Presidente Getúlio Vargas (entre a capela de São Vicente e a Rua de Santa Luzia), e subúrbios denominados: Horto, Coqueiros (antiga Boca das Cobras), Malvas, Timbaúba e Matadouro.
Art. 2º - Este decreto entrará em vigor na data de sua  publicação, revogadas   as disposições em contrário.
Paço da Prefeitura Municipal do Juazeiro,  em 4 de outubro de 1939.

Antônio Pita
Prefeito Municipal

Manoel Pereira Dinis
Secretário

Breve história da Medicina em Juazeiro do Norte - Por . Napoleão Tavares Neves

     Na década de 50 a medicina do Juazeiro era assim: havia apenas o Hospital-Maternidade São Lucas dirigido pela Sociedade São Francisco das Chagas integrada por senhoras da sociedade, entidade sem fins lucrativos. O seu corpo clínico era este: 1) Dr. Mário Malzoni, Diretor, Clínico e Anestesiologista. Foi ele o 1° anestesiologista do Cariri. 2) Dr. Possidônio da Silva Bem, obstetra, ex-Prefeito da cidade ao tempo da Ditadura Vargas. No início da sua vida médica clinicou em Bezerros, Pernambuco, quando foi eleito Deputado Estadual e como Presidente da Assembléia Legislativa chegou a ocupar o cargo de Governador, acidentalmente e apenas por algumas horas. 3) Dr. Mozart Cardoso de Alencar, clínico, excelente poeta, repentista, escritor. Rimava o dia todo, inclusive, escrevia receitas rimadas, quando queria. Inteligência fulgurante, era barítono de invejável voz. Foi Prefeito de Juazeiro do Norte. 4) Dr. José Mauro Castelo Branco Sampaio, obstetra e cirurgião, homem carismático que foi eleito Prefeito Municipal de Juazeiro por duas vezes, afora Deputado Federal por quatro legislaturas. Era filho do Dr. Leão Sampaio que, como Deputado Federal, conseguiu as verbas para construção do portentoso Hospital São Lucas. 5) Dr. Carlos Irlando Pereira de Matos, primeiro traumatologista do Cariri. 6) Dr. Hamilton Esmeraldo Alves, clínico e obstetra. Era Médico do Posto de Tracoma local, após especialização no Rio de Janeiro. 7) Dr. Geneflides Matos, Ginecologista e Obstetra. 8) Dr. Francisco Augusto Tavares, "Dr. Ney", primeiro Pediatra do Cariri. Boêmio, era também bom orador. 9) Dr. Hildegardo Belém de Figueiredo, cirurgião geral e primeiro Médico do Cariri a estagiar nos Estados Unidos. Era um polivalente. 10) Dr. Antônio Conserva Feitosa, clínico. Era mais político do que Médico. Carismático, foi Prefeito de Juazeiro por três vezes e Deputado Estadual por três legislaturas.
HAVIA AINDA: 11) Dr. Manoel Belém de Figueiredo, Sanitarista e boticário. 12) Dr. Jussiêr Figueiredo, clínico. 
ALGUNS ANOS DEPOIS CHEGARAM: 13) Dr. João Tavares Neves, ginecologista e obstetra. 14) Dr. Odílio Camilo da Silva, cirurgião e traumatologista. 15) Dr. Ailton Gomes, Pediatra. 16) Dr. José Newton Gomes, cirurgião geral. Estes quatro últimos Médicos fundaram o Pronto Socorro do Juazeiro ou Policlínica do Juazeiro, cujo Corpo Clínico foi logo acrescido do: 17) Dr. Antonio Gilson Sampaio Coelho, anestesiologista. e MAIS TARDE CHEGARAM A JUAZEIRO: 18) Dr. Eduardo Teixeira Lopes, cardiologista e depois radiologista. 19) Dr. Luiz Soares Couto, obstetra clínico. 20) Dr. Hugo Santana de Figueiredo, oftalmologista e primeiro Médico caririense a especializar-se em Barcelona-Espanha. Portanto, em largos traços, eis o panorama médico-hospitalar de Juazeiro nas décadas de 50 e 60. .

(Napoleão Tavares é Médico, Escritor,  Professor Honoris Causa da URCA)


DRA. JULIETA BRAZ, NOSSA PRIMEIRA MÉDICA. Esta é a  Dra. Maria Julieta Braz a primeira médica nascida em Juazeiro do Norte (06.01.1924), filha de Antônio Braz de Oliveira e  Luzia Braz de Oliveira. Ainda jovem, conheceu o empresário João de Souza Menezes, com quem se casou indo morar em Fortaleza. Deste casamento nasceram os filhos Antônio Péricles Braz Menezes (Odontólogo), residente em Juazeiro, e Maria de Fátima Braz Menezes (Médica Pediatra), residente em São Paulo. Dra. Julieta, nunca exerceu a profissão em sua terra natal, indo logo depois de formada, trabalhar na cidade de Guaramiranga-CE, numa Campanha de Educação Rural. Depois foi residir em São Luiz–Maranhão, onde permaneceu por 30 anos, trabalhando na Maternidade Infantil daquele capital e sendo ainda médica da Prefeitura.   Há dez anos, aposentada, retornou a sua terra natal onde vive sempre sorridente e possuidora de uma lucidez invejável, desfrutando do carinho da família e dos amigos. (Foto e texto de João Carlos R. de Menezes).



domingo, 5 de junho de 2011

Origem do Bairro Pirajá - Por Maria Ivonisete Sobreira

Foto da primeira casa construída no Pirajá
  
 O Bairro Pirajá teve início no ano de 1937 com a construção de duas casas pelo Sr. Francisco Dias Sobreira, onde iniciou um pequeno comércio de compra e venda de algodão e cereais em geral. Esta atividade durou até o ano de 1945. O terreno, ocupado hoje pelo bairro fazia parte de propriedades agrícolas pertencentes a Abel Sobreira, Francisco Dias Sobreira (acima citado), João Marcelino de França e José Dias da Silveira. José Travares Pirajá, cunhado e amigo particular do Sr. Francisco Dias sobreira, substituiu este naquela atividade. A freguesia deste pequeno comércio de José Tavares Pirajá se constituía dos transeuntes residentes nos sítios Pedra de Fogo, Macacos, Fazenda Nova, Limoeiro, etc. A casa em que residiu José Tavares Pirajá é construída de tijolos coberta de telhas, com dois vãos, alpendre, localizada ao nascente da estrada de ferro Juazeiro-Barbalha. Hoje pertencente ao seu Filho Dr. Pedro Sobreira Pirajá.
  Todos os que iam e vinham, comentavam que no "seu" Pirajá, tudo era mais barato do que nas demais vendas. Assim ia o José Tavares Pirajá, sendo cada vez mais conhecido e procurado, oferecendo de quebra ao freguês um discurso político ou uma doutrinação religiosa com exemplos fulgurantes tirados da vida dos Santos ou da Sagrada Escritura de que era fiel leitor. Por volta de 1946 o Sr. Francisco Dias Sobreira, deu a algumas pessoas uns chãozinhos e ali foram construídas as primeiras casas e habitada pelos primeiros habitantes do Bairro. Logo surgiram novas casas. Em 1947 o atual Bairro do Pirajá contava umas 8 a 10 casinhas. Em 1950 umas 100 casinhas já se podia observar. Neste ano foi lançada a pedra fundamental do Santuário de São Francisco, responsável pelo crescimento daquele setor sul da cidade. O Bairro não possuía outro ponto de atração, senão a costumeira  e animada rodinha da bodega do "seu" Pirajá onde se discutiam as crises econômicas, religião e política; onde não eram negados conselhos e orientações do "seu" Pirajá. Em 1958 com prazer se podia observar o seu número de habitantes bem maior e a construção calculada de 500 casas. Hoje o Bairro com aproximadamente 2.000 casas, tendo vida quase auto-suficiente, com mercearias, um mercado público, um grupo escolar cujo terreno foi doado por Francisco Dias Sobreira e que deveria chamar-se Carolina Sobreira, uma bonita Praça, telefone público, televisão pública, melhoramentos levados àquele Bairro pela administração do atual prefeito, Dr. José Mauro Castelo Branco Sampaio.

DADOS BIOGRÁFICOS DE JOSÉ TAVARES PIRAJÁ
José Tavares Pirajá, nasceu em São Pedro do Crato, atual Caririaçu. Mas quanto à data do seu nascimento há divergência, em dois documentos: em seu título de eleitor (30 de setembro de 1886) e em sua certidão de casamento civil (1888). É mais provável, pelo testemunho de sua mulher Izabel Gonçalves Sobreira, que o ano de seu nascimento seja efetivamente 1886. Filho de Agostinho Antônio Tavares e de Vitorina Maria Tavares. Fez seus estudos primários no então Colégio Diocesano de Crato. Como filho de agricultor que era e não podendo mais continuar seus estudos, voltou suas atividades para a vida agrícola e pastoril, pois na época foi considerado um dos melhores vaqueiros da região. Casou-se com Dona Izabel Gonçalves Sobreira (conhecida na intimidade por dona Bilinha) com quem teve seis filhos. As suas horas vagas eram preenchidas com boas leituras. Ele era assíduo leitor das vidas dos Grandes Santos. Como homem político, era um partidário leal e fervoroso, defendendo com ardor o partido de sua preferência e, não raro, com arrogância caso isto fosse necessário; como era um homem respeitado e acatado em suas opiniões, sempre em todas as eleições contava com um grupinho de eleitores fiéis, o que, dentro do sistema político da época que não mudou em nada até hoje, tornava-o o que se chama um "Cabo Eleitoral" respeitável e de certa influência. José Tavares Pirajá, faleceu a 28 de fevereiro do ano de 1965. (Extraído do jornal O Lavrador, editado pela Escola Normal, edição de 07.10.69) 
Bairro Pirajá atualmente


sexta-feira, 3 de junho de 2011

Monsenhor Joviniano Barreto, o Mártir do Dever - Por Armando Lopes Rafael (*)

O ano de 1950 começou promissor para Juazeiro do Norte. A comunidade católica daquela cidade preparava-se para comemorar – no mês de março – os 15 anos do profícuo paroquiato de Monsenhor Joviniano Barreto. Este, por sua vez, após ajudar, meses antes, na instalação da Congregação Salesiana em Juazeiro do Norte, aguardava o dia 6 de janeiro, data marcada para o lançamento da pedra fundamental do Convento e Seminário dos Capuchinhos, frades recém-chegados a Juazeiro do Norte, após pacientes negociações feitas entre o Bispo de Crato, Dom Francisco de Assis Pires – com decisiva participação do Monsenhor Joviniano Barreto – e a Província Franciscana.
     A quase totalidade da população ordeira e humilde de Juazeiro do Norte professava a religião católica. E, como ocorre em toda cidade em fase de grande crescimento, Juazeiro do Norte abrigava alguns portadores de paranoias esquizofrenias. Um deles, Manoel Pedro da Silva, natural de Açu, Rio Grande do Norte, vinha, nos últimos meses, insistindo (junto a monsenhor Joviniano) para que o vigário o casasse com uma senhora já casada. Em vão o sacerdote explicou ao desequilibrado homem que a Igreja Católica proibia a realização desse matrimônio. Consta que, por algumas vezes – por vingança ante a recusa do sacerdote em realizar o ilegal casamento – Manoel Pedro procurou assassinar Monsenhor Joviniano. Uma dessas tentativas teria sido planejada para a Missa de Natal. E só não foi concretizada, pois, na hora prevista, faltou coragem a Manoel Pedro para praticar o homicídio.
     Mas, no início da fatídica noite de 6 de janeiro de 1950, após a solenidade de lançamento da pedra fundamental do convento dos capuchinhos, Manoel Pedro veio na direção de Monsenhor Joviniano e lhe desferiu profunda facada no coração, matando-o na hora.  A pedra fundamental do convento dos capuchinhos foi, assim, regada pelo sangue desse servo bom e fiel, um “Mártir do Dever”.
     Monsenhor Joviniano Barreto nasceu no município de Tauá, no Sertão dos Inhamuns, em 05 de maio de 1889. Oriundo de família de sólida formação católica era afilhado de crisma do segundo bispo do Ceará, Dom Joaquim José Vieira.
    Estudou no Seminário da Prainha, em Fortaleza, onde recebeu ordenação sacerdotal em 22 de dezembro de 1911, aos 22 anos. Enquanto aguardava a idade canônica para receber a ordem do presbiterato lecionou naquele Seminário, entre 1908 e 1909 e no Colégio São José de Crato, entre 1910 e 1911.
     A criação da Diocese de Crato veio encontrar o então Padre Joviniano Barreto como vigário-cooperador de Lavras da Mangabeira. Posteriormente, ele foi Cura da Catedral de Crato, Secretário do Bispado, professor e reitor do Seminário Diocesano São José, vice-presidente do Banco do Cariri (pertencente à diocese) e diretor do Ginásio, hoje Colégio Diocesano.
      Segundo o escritor Mário Bem Filho: “Na administração episcopal de Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, primeiro bispo de Crato, Monsenhor Joviniano Barreto era o padre de maior projeção da diocese. Homem apostólico, dedicado, trabalhador, inteligente e culto. Tinha um caráter forte e uma personalidade marcante. Contava com a amizade e estima de todo o clero diocesano. Impôs-se pela bondade. No governo do segundo bispo, Dom Francisco de Assis Pires, Monsenhor Joviniano era depositário de toda a confiança do pastor diocesano que o tinha como conselheiro. Dom Francisco mandava-o chamar frequentemente, ao Palácio Episcopal, para ouvi-lo”.
       Com a morte de Monsenhor Esmeraldo, vigário de Juazeiro do Norte, ocorrida em outubro de 1934, aquela paróquia ficou novamente vaga e o Bispo de Crato encontrava dificuldades junto aos seus padres para que um deles assumisse aquela jurisdição paroquial. Um grupo de senhoras de Juazeiro do Norte veio, certa vez, ao Seminário São José, em Crato, pedir monsenhor Joviniano para aceitar a missão de pastor dos juazeirenses. Ele respondeu negativamente ao pedido. Dias depois, sem que ninguém soubesse o motivo da mudança, Monsenhor Joviniano procurou Dom Francisco e disse que aceitava a nomeação para Vigário de Juazeiro do Norte, uma função que representava, àquela época, um grande desafio. Assumiu a Paróquia de Nossa Senhora das Dores em 26 de março de 1935. Durante 15 anos reorganizou a vida paroquial. Dinamizou as associações religiosas. Reformou totalmente a igreja-matriz – hoje Basílica Menor – deixando-a com o aspecto como está hoje. Ajudou na evolução social da Terra do Padre Cícero, participando de todas as iniciativas que representavam progresso para Juazeiro do Norte.  Foi professor da Escola Normal Rural e concluiu sua profícua missão pastoral em 6 de janeiro de 1950, passando à história como “O Mártir do Dever”.

 Na segunda foto acima, sentado à direita de Dom Quintino, monsenhor Jovianiano Barreto. Acima, em pé, da esquerda para a direita: monsenhor Francisco Assis Feitosa o cônego Manoel Feitosa.

(*) Armando Lopes Rafael é historiador.