sábado, 6 de maio de 2017

Quem faz parte da matriz de formação histórica de Juazeiro - Daniel Walker

Muitas pessoas aqui em Juazeiro se incomodam quando associam à história da cidade jagunços, cangaceiros, beatos, romeiros, Maria de Araújo e (pasmem!) até mesmo o Padre Cícero. 
Elas agem assim por absoluta falta de conhecimento do processo de formação histórica da cidade. Pois, de fato, na matriz da formação histórica de Juazeiro todos esses elementos lá estão, como personagens inapagáveis. 
Com este texto apresento algumas argumentações básicas para um melhor entendimento dessa questão. 
Jagunços e cangaceiros. Os jagunços e cangaceiros prestaram relevante serviço a nossa comunidade, quando em 1914, sob a liderança de Dr. Floro Bartholomeu da Costa, eles com sua bravura ajudaram a derrotar as tropas do governador  Franco Rabelo, apeando-o do poder. Se Juazeiro dependesse apenas dos seus pacatos moradores e dos dóceis romeiros, teria sucumbido face ao tremendo poderio das forças rabelistas que cumpriam ordens do rancoroso governador no sentido de destruir a cidade e dizimar a população. 
Padre Cícero por sua bondade e carisma era uma espécie de imã para atrair a Juazeiro jagunços e cangaceiros. Por isso, muitos historiadores inescrupulosos escreveram em seus livros, de forma leviana, que ele era coiteiro de cangaceiros. Na verdade, Padre Cícero não acoitava e sim, acolhia.  E esses escritores sabiam muito bem distinguir a diferença entre os dois termos; mas na intenção de denegrir a imagem do fundador de Juazeiro teimavam em carimbar na sua (dele) biografia o termo coiteiro, no seu sentido mais pejorativo. 
Padre Cícero dizia que esta cidade era um refúgio dos náufragos da vida; por isso, quem a procurava como última estação da esperança recebia dele o melhor acolhimento. Assim aconteceu, por exemplo, com os cangaceiros Sinhô Pereira e Luiz Padre, os quais se regeneram graças à ação do Patriarca de Juazeiro, e terminaram a vida como cidadãos pacatos. Isso não é ficção, é fato real, comprovado.
Então, não há motivo para ninguém se incomodar com a presença de jagunços e cangaceiros  na história desta cidade. Eles estão presentes na história de muitos lugares. 

Romeiros. O encantamento que esta cidade proporciona só ocorre por causa dos romeiros e suas romarias. Sem eles Juazeiro seria um lugar comum como tantos que existem no mundo, ou talvez, nem sequer existisse no mapa do Brasil. 
Não há dúvida, a cidade é romeira, autenticamente romeira, em que pese isso incomodar alguns juazeirenses nativos recalcitrantes, tanto de ontem como de hoje. 
Na verdade, atualmente em Juazeiro há poucas famílias sem DNA romeiro no sangue. Assim, poucos filhos da terra poderão se apresentar como sendo de uma cepa genuinamente juazeirense. O restante ou é romeiro; ou filho de romeiro; ou neto de romeiro; e isto não deve ser motivo de insatisfação para ninguém, pois os romeiros independentemente de qualquer julgamento ou análise são protagonistas da história e agentes do progresso e do desenvolvimento desta grande cidade. 
Por isso, a presença deles aqui precisa ser respeitada e valorizada, porquanto representa uma contribuição inestimável na formação histórica e cultural juazeirense.
Os romeiros vieram a Juazeiro atraídos pelo Padre Cícero e para aqui trouxeram suas agruras e sonhos, mas também sua cultura, sua história de vida, sua culinária, seus saberes, seus fazeres,  sua crença religiosa e por conta da procedência de cada um, eles terminaram  transformando Juazeiro no grande mosaico de etnias nordestinas. Ao chegarem aqui, eles não apenas ocuparam e cultivaram um espaço geográfico delimitado por quilômetros quadrados, mas construíram uma espacialidade da qual floresceu uma grande Nação Romeira, sem igual em parte alguma do mundo. 
Portanto, é preciso que os representantes da população nativa se conscientizem de que no sangue que faz pulsar o coração de Juazeiro do Norte existe uma genética romeira, e isto faz, sim, muita diferença. Sem romeiros e sem romarias, Juazeiro deixa de ser a Terra do Padre Cícero. 

Beatos e beatas. Os beatos e beatas foram grandes auxiliares da ação pastoral do Padre Cícero. São eles que dão o tom de cidade mística a Juazeiro. E isso não deve ser motivo de insatisfação para ninguém daqui. Aliás, ser uma cidade mística é antes de tudo um privilégio, pois existem poucos lugares assim no mundo. E misticismo não é fanatismo. Cidade mística é cidade santa. E isto desperta interesse turístico. Até na Europa!
A beata Maria de Araújo foi “uma  das maravilhas da graça de Deus”, na opinião abalizada do seu mentor espiritual, Padre Cícero. Independentemente de ser ou não verdadeiro o milagre por ela protagonizado, sua vida é um atestado eloquente de humildade e resignação. É a mulher mais importante da história de Juazeiro. Gostar ou não gostar dela, é atitude de foro íntimo de cada um dos habitantes de Juazeiro, mas sua consagração já está registrada na história da cidade. Juazeiro é o resultado imediato do milagre da hóstia, seja ele verdadeiro ou não. Quem conhece a vida da beata Maria de Araújo vai ver que ela não corresponde à figura projetada nos livros pelos seus difamadores. Ninguém está obrigado a considerá-la santa, pois a Igreja ainda não a considera como tal: mas uma santa mulher sem dúvida ela foi. 

Padre Cícero. Ele nunca foi unanimidade nem poderia ser, pois isso até hoje ninguém conseguiu na face da Terra. Nem Deus, cuja existência é negada pelos ateus. Mas pra Juazeiro ele é tudo, mesmo que isso incomode algumas pessoas, especialmente motivadas por crença religiosa. Mas deixando de lado este aspecto singular, é dever de todo juazeirense ou pessoa de fora aqui residente, por uma questão de coerência e gratidão, respeitar o cidadão Cícero Romão Batista, o fundador da cidade de Juazeiro do Norte. Ele foi, e continua sendo mesmo depois de morto,  o maior benfeitor desta cidade. Sem sua presença é pouco provável que o povoado fundado pelo Padre Pedro Ribeiro  de Carvalho pudesse um dia se desmembrar do jugo do município de Crato. É fácil perceber o quanto isso é verdade, pois basta verificar o que aconteceu de 1827, quando nasce o povoado, até 1871 quando chega o Padre Cícero. Nada! O lugar era um mísero aglomerado humano sem a menor perspectiva de crescimento. A partir da chegada do Padre Cícero, tudo mudou. 
Enfim, quem não gosta de Juazeiro do jeito que é, está  morando no lugar errado. Porque quer. 



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