VULTOS HISTÓRICOS

 DIRCEU INÁCIO DE FIGUEIREDO 
-Biografia – 
Por: Fernando Maia da Nóbrega  

   Durante o primeiro trintenário do século XX, Dirceu Inácio de Figueiredo dedicou-se a várias vertentes comerciais em Juazeiro do Norte. De pequeno no princípio, graças à rara visão mercadológica, transformou-se em grande comerciante no ramo de tecidos, industrial no beneficiamento de algodão e atuou com brilhantismo no setor financeiro ao fundar, em 1937, a Casa Bancária Dirceu Figueiredo de Juazeiro do Norte. (01). Hoje, a praça da prefeitura tem o seu nome e lá se encontra uma herma homenageando-o. 
     Seu pai, Joaquim Inácio de Figueiredo, era filho de José Inácio de Figueiredo e Angélica Cabral de Figueiredo (02) tendo chegado ao distrito de Juazeiro por volta de 1870  para trabalhar no ramo da agricultura.  De seu casamento com Ana da Franca Figueiredo nasceram os seguintes filhos: 

F1- Abdísio Inácio de Figueiredo c.c. Carolina Sobreira da Rocha 
F2- Joaquina Figueiredo Matos c.c. João de Matos 
F3- Otoniel Inácio de Figueiredo 
F4-Angélica de Figueiredo Cabral 
F5 – José André de Figueiredo c.c.1 - Maria Sobreira de Figueiredo 
                                                    c.c. 2   Priscila Sobreira de Alencar
F6 – Joaquim André de Figueiredo c.c. Videlina Bantim de Figueiredo  

Ao ficar viúvo, Joaquim André de Figueiredo contraiu  novo enlace com Maria Leopoldina de Araujo, de cuja união provieram os seguintes filhos: 

F1- Raul Figueiredo 
F2- Aurora Adélia Sobreira de Figueiredo c.c. Paulo Maia 
F3- Dirceu Inácio de Figueiredo c.c. Adelina Sobreira de Figueiredo 
F4- Amanda Sobreira de Figueiredo (Sinhá) 
F5- Carlota c.c. Esmerindo da Cruz 
F6- Eudócia Figueiredo c.c. Pedro Estevão 
F7- Rubens 
F8- Silgefredo

    Após o falecimento de seus genitores, Dirceu Inácio de Figueiredo herdou pequena gleba de terra. Teve um início de vida adulta difícil a ponto do padre Azarias Sobreira afirmar: 
“Dispondo apenas de poucos cruzeiros, no dia de seu casamento aliás com moça fugida, Dirceu trabalhou como verdadeiro mouro para adquirir a posição que conquistou (...)” (03).     
   Com o passar dos anos, Dirceu se transformou em homem rico, a tal ponto que  Agostinho Balmes Odísio, escultor italiano que esteve em Juazeiro em meados  de 1930, afirma que tivera um encontro com   “(...) o maioral da terra o Cel.Dirceu Figueiredo(...)”  (04) 
  Ao longo do tempo, Dirceu Inácio construiu um sólido patrimônio. Em 1938, constava como proprietário as seguintes fazendas e sítios: Chupador, Espinho, Coité, Olho d’água, Umari, Riachão, Carneiro, Umburana e Mineiro.(05) Nas fazendas  Espinho e Coité instalou engenhos para a fabricação e comercialização de  rapaduras.
   Em 1901, aos 29 anos de idade, casou com Adelina Sobreira de Figueiredo, 11 anos mais nova, com quem teve dez filhos, discriminados a seguir:

F1 - Odílio Figueiredo c.c. Edith Sobreira de Figueiredo  
F2- Doralice Figueiredo c.c. José Nery da Rocha 
F3 - Alceu Sobreira de Figueiredo c.c. Amélia Gentil de Figueiredo
F4 - Elza Figueiredo Alencar c.c. Almino Loiola de Alencar  
F5- Nair Figueiredo c.c. Orlando Rocha  
F6- Jussier Figueiredo c.c. Rici Maia  
F7 - Neli Figueiredo (falecida prematuramente, aos 13 anos de idade) 
F8 - Pedro Figueiredo c.c. Ivonete Gonçalves 
F9 - Dirceu Figueiredo Filho c.c. Valdelice Coimbra 
F10 - Dircíola Figueiredo c.c.  José Xavier da Silva

Fixou residência  na Rua  Padre Cícero, no quarteirão compreendido entre a rua do cruzeiro e Rua Nova.
                                          ( Sobrado onde residia o Cel. Dirceu de Figueiredo)

  Lançando-se com afinco e dedicação ao ramo mercantil fundou a empresa “DE FIGUEIREDO” localizada nas imediações da Praça Padre Cícero. Ao mesmo tempo, Dirceu aproveitando a excelente safra de algodão nos idos de 1922 (06) construiu o prédio onde hoje se localiza a Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte, lá instalando uma fábrica de beneficiamento de algodão. (07)   


                                                   Foto da fábrica de beneficiar algodão 

  Consoante informações de Júlia Figueiredo Rocha, mais conhecida por Dozinha, professora aposentada da UFC,  neta mais velha e afilhada de Dirceu Inácio, seu avô, além de larga visão para o comércio, conhecia bem a Constituição brasileira e tinha noções básicas de Direito Comercial e Penal, sendo conhecido como um rábula no meio social de Juazeiro daquela época.  Iniciou suas atividades mercantis, vendendo em consignação, pequenas cargas de rapadura, adquiridas de produtores de Barbalha e vendendo-as nas feiras daquela cidade caririense. 
Em carta dirigida ao seu filho Jussier,  então acadêmico de medicina, informa, entre outros assuntos, sobre suas atividades comerciais:
(...) “A fazenda. Esta está em boas condições, o ano passado fiz 1845 cargas de rapadura, este ano talvez fassa o mesmo, construí mais 4 pequenos assudes fazendo assim 7 assudes. 2 motores bem montados 1 no Coité e outro no Espinho, todos com capacidade para 20 cargas diária. A Caza bancária vai regular.(...)” (sic)

  Na mesma missiva informa ao filho sobre sua saúde, o que se deduz que era diabético:

“(...) Quanto a perca de assucar que eu vinha perdendo, estou melhorado mais não bom de tudo. Continui tomando insolina, parceladamente.(...)(sic) (08)

   Homem ciente de seus deveres para com a família, não somente com seus descendentes diretos,      Dirceu ajudou aos filhos órfãos de sua irmã Aurora Adélia de Figueiredo Maia por muito tempo. Nos idos de 1930, um dos seus sobrinhos, Odilio Figueiredo, após atingir a maioridade, pediu-lhe que financiasse um veículo para trabalhar na praça. Dirceu lhe emprestou Cr$ 4.000,00 (quatro mil cruzeiros) para a aquisição de um automóvel Ford, que lhe foi pago em quatro ou cinco prestações. 
   Ao correr do tempo, tornou-se próspero negociante, de afinada perspicácia, a ponto de ser o sócio-fundador da Cooperativa de Crédito de Juazeiro do Norte, a qual, depois de vendida, se transformou respectivamente em Banco do Juazeiro, Banco Industrial do Cariri e atualmente China Construction Bank (CCB).
Posteriormente, fundou a Casa Bancária Dê Figueiredo, mencionada no início do texto, transformada depois em Casa Bancária Viúva D Figueiredo, extinta em 1953, com o falecimento da sócia proprietária, Adelina Sobreira de Figueiredo.

                                              (Casa Bancária viúva D. Figueiredo Rua do
                                                Cruzeiro, em frente a Praça Pe.cícero))

  Não há registro do envolvimento de Dirceu na política juazeirense. Talvez decorrente da decepção vivenciada na “Revolução de Juazeiro” onde seu cunhado Paulo Maia fora assassinado em 1914 e seu irmão José André de Figueiredo, por ser seguidor do governo Franco Rabelo e adversário político de doutor Floro Bartolomeu, teve suas lojas saqueadas e ser praticamente banido para Campos Sales, Dirceu manteve-se distante da vida político-partidária. (09) 
    No campo educacional foi grande incentivador para a instalação da primeira Escola Rural do Brasil em Juazeiro.  No início, funcionando precariamente no Orfanato Maria José, graças à bondade das Irmãs de Santa Tereza, dirigentes do orfanato. Posteriormente, em setembro de 1934, a Escola Normal se transfere para o edifício onde se localizava a indústria de beneficiar algodão pertencente a Dirceu. A ele e outros cidadãos é outorgado um diploma de “Honra ao Mérito” por serem benfeitores da escola: 
         “Aos insignes membros fundadores do Instituto 
          Educacional de Juazeiro do Norte, o reconhecimento 
         E a gratidão da Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte “(10) 
  Dirceu Inácio de Figueiredo nasceu em Juazeiro do Norte a 16 de julho de 1872 e faleceu, na mesma cidade, em 29 de agosto de 1939, acometido por uma “angina pectoris”.
  Pela brilhante prole deixada e pelo trabalho efetuado, em várias áreas para o desenvolvimento de nossa terra, merece ser lembrado e ter o reconhecimento da geração atual. 

NOTAS 
1 –. Pg.29
 Figueiredo Filho,Odílio. “Odílio Figueiredo – um juazeirense de expressão. Iª Ed. pg 29 Fortaleza> Editora IMEPH,2011
2 -  Sobreira. Padre Azarias “MINHA ÁRVORE GENEALÓGICA (MINHA E DE MUITOS         OUTROS) pg. 33. Revista do Instituto do Ceará 1946. Fortaleza 
3-  Idem,ibidem. 
4- Odísio. Agostinho Balmes. ”Memórias sobre Juazeiro do Padre Cícero - 1935” pg. 91  Museu do Ceará. Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. Fortaleza 2006. 
5 – Figueiredo Filho,Odílio, o.c. pg.30
6-: http://www.vejajuazeiro.com.br/o-antigo-comercio-de-juazeiro-do-norte/ março 2016 Senhorzinho Ribeiro in “Comércio de Juazeiro anos 20”
“(...). Em 1922 houve uma grande produção de algodão, e tanto o agricultor, como o comerciante ganharam muito dinheiro. (...). Os fortes pertenciam ao comércio, indústria e agricultura. Dentre eles se sobressaíram José Pedro da Silva, comerciante e industrial, José Pereira da Silva, atacadista, José Bezerra de Melo, agricultor, José Bezerra de Menezes, pecuarista e Dirceu Inácio de Figueiredo, comerciante.”
7 -  Oliveira. Amália Xavier de. “História da Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte” pg.31 Fortaleza secretaria de cultura e Desportos 1864
8-  Carta de Dirceu Inácio de Figueiredo ao seu filho,então acadêmico de medicina, Jussier:
Carta em poder do escritor Odílio Figueiredo Filho a qual transcrevemos “ipsis litteris”:
“Juazeiro, de abril de 1939.
Jussieur, Deus lhe abençoi.
Recebi todas tuas cartas. Li-as com atenção, tirei a conclusão de todas. Sei com segurança o que você queria. Estou de acordo. Você estudando bem para que seja um médico de confiança do povo, pelo contrário é um fracasso como os que tem aparecido aqui. Quanto a mim e a sua mãe vamos como velhos ora milhor ora peior, é assim que os velhos marcham, mais graças a Deus vamos furando. Os meninos vão bem, Pedro, Figueiredo, Dirciola em Fortaleza, todos com saúde. Figueiredo avansando muito nos estudos, estou satisfeito com elle. Acho que você deve escrever a elles, aconselhando para assim elles tomarem gosto.
Fazenda. Esta está em boas condições, o ano passado fiz 1845 cargas de rapadura, este ano talvez fassa o mesmo, construí mais 4 pequenos assudes fazendo assim 7 assudes. 2 motores bem montados 1 no Coité e outro no Espinho, todos com
capacidade para 20 cargas diária. A Caza bancária vai regular. Doralice, Elza, Nair vão bem. Odilio e Alceu, também, Alceu já tem um filhinho.
Enverno – muito bom, a fartura é grande.
Dinheiro – este dizapariceu todo. População quebrada faz pena. Afastar isso com um poco de estudo é que pode si esplicar.
Quanto a perca de assucar que eu vinha perdendo, estou melhorado mais não bom de tudo. Continui tomando insolina, parceladamente.
Sem mais, do pai Amigo,
Dirceu Figueiredo” 
 9-http://historiadejuazeiro.blogspot.com.br/2015/04/dr-floro-bartolomeu-da-costa-fernando.html
N.A. Em 09 de junho de 1914, Paulo de Menezes Maia casado com Aurora Adélia de Figueiredo Maia, irmã de Dirceu Figueiredo, foi assassinado em Juazeiro a mando do delegado Nazário Landim, o qual contratou o pistoleiro Mané Chiquinha. Analisando-se o contexto da época há fortes indícios da participação intelectual de doutor Floro Bartolomeu, em razão do apoio político dado por Paulo Maia ao seu cunhado José André de Figueiredo forte postulante ao cargo de prefeito quando da autonomia de Juazeiro, bem como por ser inimigo de Antônio Alves Pequeno, prefeito do Crato e amigo de Floro. 
 Além do mais, Floro Bartolomeu incitou o povo, através de nota, a não comprar nas lojas de José André (ver Della. Cava Ralph. Milagres em Joaseiro pg.115). Meses depois as lojas do comerciante foram saqueadas. 
10- Oliveira,Amália Xavier de .O.c. pg.37

 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.
Carta de Dirceu Inácio de Figueiredo ao seu filho,então acadêmico de medicina, Jussierhttp://historiadejuazeiro.blogspot.com.br/2015/04/dr-floro-bartolomeu-da-costa-fernando.html mai0\2015
Filho. Odílio Figueiredo. “Odílio Figueiredo – Um  juazeirense de Expressão” Ed. IMEPH. Fortaleza 2011
Odísio. Agostinho Balmes. ”Memórias sobre Juazeiro do Padre Cícero - 1935”  Museu do Ceará. Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. Fortaleza 2006. 
Oliveira. Amália Xavier de. “História da Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte” pg.31 Fortaleza secretaria de cultura e Desportos 1864

Biografia de Hermínia Marques Gouveia - Por Amália Xavier de Oliveira




Alguns autores improvisados da História do Juazeiro lançam um acervo de calúnias em torno desta pobre senhora a ponto de ferirem até sua honra. Conhecida por todos os juazeirenses daquela época, como uma senhora de costumes irrepreensíveis, faço-lhe justiça, esclarecendo aqui o que sabemos sobre sua personalidade:

Hermínia Gouveia (foto acima) não era beata, como dizem quase todos que a ela se referem. Natural de Jardim, Ceará, onde nasceu a 25 de novembro de 1871, era prima da Revda. Madre Ana Couto, Primeira Geral das filhas de Santa Tereza; informações dadas por esta religiosa.
Veio para Juazeiro em 1891 já casada com um senhor, pobre, humilde, sem iniciativa. Chamavam-no João Canário, porque se dedicava à criação destes pássaros.
Era uma senhora, boa, delicada, caridosa, honesta, lia e escrevia desembaraçadamente. Vivia de seu trabalho tendo como preocupação precípua, prestar obséquios, agradar, e resolver as dificuldades dos que a cercavam.
Freqüentava as principais famílias da terra e era amiga das matronas daquele tempo; Dona Ana Vitorino, Umbelina Xavier, D. Carolina Sobreira, D. Generosa Moreira, Rosinha Esmeraldo, Isabel da Luz, que muito a consideravam, pois era uma senhora de vida espiritual intensa.
Não tinha filhos, mas recebeu em seu lar jovens em idade de formação, cuidando delas como se fossem filhas; algumas viveram com ela até sua morte; dentre estas há uma muito conhecida por todos em Juazeiro: Donata Bezerra, moça exemplar, de formação completa que já prestou reais serviços à terra, como professora pela Prefeitura e na Escola Normal Rural, e ainda como regente do coro da Matriz.
Dizem que Hermínia tinha visões e escrevia tudo a mandado de seu Diretor Espiritual, Pe. Cícero. Poucos dias antes de morrer, queimou alguns papéis e mandou enterrar outros, coisa que desagradou muito a seu Diretor que fez arrancar os papéis enterrados, não aproveitando quase nenhum por haver chovido algumas noites sobre eles.
À sua iniciativa devemos a Capela do Perpétuo Socorro construída em 1908 para cumprir o voto que fez pela saúde do Pe. Cícero.
Logo que este se recuperou, iniciou a construção da Capela, contígua ao terreno destinado à construção do cemitério para ficar servindo a este, mas não continuou, suspendendo os trabalhos nos primeiros passos.
Havia chegado aqui naquele mesmo ano de 1908 o Dr. Floro Bartolomeu. Hermínia, com o desejo de ver construída referida Capela, foi pedir a interferência do Dr. Floro Bartolomeu junto ao Pe. Cícero, dizendo-lhe que estava prestes a morrer e queria ver ao menos coberta a Capela. Pediu então ao Doutor para arranjar com que o Padre continuasse o trabalho por ela iniciado e depois interrompido sem que ela soubesse a causa.
Esta história se encontra tal como aqui vai repetida, no livro do Dr. Floro Bartolomeu, "Juàzeiro e o Pe. Cícero".
Diz o Dr. Floro que "tendo solicitado ao Padre a continuação da obra, este o informara que não podia continuar porque o vigário do Crato, então o Pe. Quintino, depois primeiro Bispo da Diocese, havia suspendido em nome do Bispo de Fortaleza; mas que, se ele, (Dr. Floro), ou outra pessoa, conseguisse uma licença para continuação da obra, ele, Pe. Cícero assumiria a responsabilidade das despesas e seria aproveitado o material que estava se estragando.
Continua Dr. Floro no seu livro: "Não querendo pessoalmente tratar do assunto, falei ao Sr. José Xavier de Oliveira, homem que gozava das graças do clero do Crato. Esse cavalheiro entendeu-se com o vigário, e obteve a licença sob a única exigência, do Pe. Cícero não ter a menor interferência no trabalho".
O Dr. Floro comenta haver ficado admirado de que, por ordem Diocesana o Vigário proibia a construção da Capela e sem consultar com o mesmo Diocesano, permitiu a continuação do trabalho. E concluía, irreverentemente, o mentor político do Pe. Cícero, com sua linguagem franca, sem medo: palavras textuais: "Parecia mais um capricho e o Pe. Cícero já com o coro duro de tantas bordoadas daquela natureza, resignado, se dispôs, sem que o seu nome aparecesse, a concorrer com o necessário em dinheiro e material, para continuação do trabalho."
Quando já estava coberta, faleceu Hermínia a autora da promessa e principal interessada na construção da Capela.
O Pe. Cícero resolveu que seu corpo fosse sepultado no interior da Capela. O vigário do Crato ao ter conhecimento do plano, mandou um emissário, avisando que não permitia aquilo, mas, já chegou tarde; a sepultura já estava fechada; não foi mais possível obedecer.
Então houve nova proibição de continuar a obra; mas aí o Dr. Floro tomou a peito, e sem ouvir, nem mesmo ao Pe. Cícero, continuou, até terminar. Ficou a Capela pronta, mas não houve permissão para benzer a mesma antes de entregar ao culto público.


PAULO  MAIA DE MENEZES
                                                 Nunca mais você mata um irmão de um homem
                                               (Pedro Maia).

Por Fernando Maia da Nóbrega

1 - SÚMULA
Nome:                  Paulo  Maia de Menezes
Filiação:               Aristides Ferreira de Menezes
         Ana Leopoldina Maia
Nascimento:         1879 - Crato-Ce (01)
Morte:                  09 de junho de 1914 – Juazeiro do Norte-Ce
Causa Mortis:      Assassinato
Motivo:               Vingança
Acusados:          Nazário Landim (mandante), Mané Chiquinha                                        (executor).

2- ANTECEDENTES
 A morte trágica de Paulo Maia, também alcunhado de Paulo Aires, ocorrida em Juazeiro do Norte no ano de 1914, teve como fonte motivadora um acontecimento havido muitos anos antes do seu nascimento, na cidade do Crato em 1856 , e que se desdobrou ao longo de 72 anos. Essa é a história de um tempo em que muitas vezes a herança deixada era um rastro de sangue...
O século XIX caracterizou-se no Cariri por profundas crises sociais e políticas, imprimindo uma marca de violência que se alastrou, além dele, por três décadas da centúria seguinte. De início, a “Revolução de 1817” frutificou sérias inimizades entre os políticos e líderes cratenses, tendo alguns sido presos enviados para calabouços na Bahia. Em seguida veio a “Revolução do Equador” em 1824 onde muitos morreram entre eles Tristão de Alencar Araripe, membro de importante família da região. A “Guerra do Pinto” em 1832 fez florescer antigas desavenças cujo desfecho foi, anos depois, a execução do chefe Joaquim Pinto Madeira. Culminando com essas conturbações sociais, surgiu a “Revolução de Juazeiro” em 1914.
E foi justamente em um desses acontecimentos sociais tão em voga, que se gestou a futura morte de Paulo Maia. No dia 08 de setembro de 1856, às três horas da tarde, se processava, dentro da igreja Matriz de Nossa Senhora da  Penha, na cidade do Crato, as eleições para as câmaras municipais e juiz de paz. O clima emocional estava quente e pesado, posto que em Barbalha dias antes ocorreram cenas de violência durante a apuração dos votos. No Crato, duas facções do Partido  Conservador disputavam com o Partido Liberal os cargos disponíveis. Determinado momento, surgiu uma discórdia entre os grupos rivais gerando uma briga generalizada entre os participantes. Dr. Jaguaribe, presidente da eleição, pede a interferência do corpo policial do município com o intuito de apaziguar os querelantes. Com a chegada dos militares, sob o comando de José Ferreira de Menezes os ânimos se exaltaram mais ainda havendo uma troca de tiros de ambas as partes, vindo a falecer o coronel José Gonçalves Landim. (02). O crime emocionou todo o Cariri a ponto do Vigário Geral Forâneo Tomaz Pompeu de Sousa Brasil excomungar o Padre Manuel Joaquim Aires do Nascimento, Pároco da Freguesia, bem como o delegado e dois soldados. (03)
Com o passar dos anos, um dos filhos do delegado José Ferreira de Menezes, de nome Aristides, tornou-se um dos mais influentes políticos cratenses no final do século XIX, exercendo vários cargos públicos de destaques, chegando a ocupar as funções de promotor, deputado provincial pela região e candidato a senador da república. (03) Ressalte-se que Aristides Ferreira de Menezes casara-se com Ana Leopoldina Maia, filha do renomado Coronel Mainha, um dos maiores políticos cratenses do século XIX. Partidário do prefeito local , Coronel Belém de Figueiredo, Aristides sofreu grande revés quando em 1904, Antonio Luiz Alves Pequeno tomou a prefeitura a “manu militari” e passou a perseguir ferozmente seus adversários por meio da montagem de uma violenta guarda municipal.
Investido na função de delegado e comandante da Guarda Municipal do Crato, Nazário Landim cometeu toda espécie de arbitrariedade possível. E em sendo neto do Coronel José Gonçalves Landim, morto na igreja em 1856, ressuscitou a velha discórdia entre as famílias. Certa feita, em meados de 1904, encontra-se numa esquina com o velho e respeitável Coronel Aristides e o agride a socos, pontapés, empurrões e lhe bate com a vareta da espingarda por várias vezes. Segundo sua lógica, vingava assim a morte de seu avô numa pessoa que à época tinha somente quatro anos.
Essa atitude inconseqüente viria a gerar outra de igual teor. Paulo Maia, filho de Aristides, inconformado com a agressão sofrida pelo seu genitor agiu rapidamente em represália: ao se encontrar com o delegado aplicou-lhe violenta surra, prostrando-o desfalecido por terra. Os cronistas narram que ao ser preso e interrogado pelo juiz, houve o seguinte diálogo:
-"Moço, que parentesco tem com o delegado Nazário”? Perguntou o juiz.
- “Ele é meu avô!” Respondeu com firmeza Paulo Maia.
“Mas... seu avô?” Contesta o Juiz.
- “Se ele é de sua idade mais ou menos, talvez seja mais moço, como explicar isso”?
-"Se ele bateu em meu pai, se deu em meu pai, certamente que é pai dele; e sendo pai dele, é meu avô.” Foi a resposta (04).
 3- A MORTE
 É certo que após o desentendimento com Nazário e cumprir prisão por mais de um ano, Paulo Maia foi residir em Juazeiro. Além deste motivo outros contribuíram sua para ida: era primo do Padre Cícero e sua mulher, Aurora Adélia, era parenta de José André de Figueiredo, um dos líderes políticos da vila. Além do mais, cuidaria das terras do sítio Muquém, naquele município, pertencentes a seu pai. Pouco a pouco Paulo Maia foi-se inserindo na vida político-social de sua nova terra.
Em 1910 Juazeiro já se consolidava como um lugarejo em constante desenvolvimento graças à presença do Padre Cícero Romão Batista e a repercussão dos milagres ocorridos em 1889. Com uma população expressiva, sendo alvo de romarias freqüentes e de um comercio se expandindo constantemente, a vila clamava pela sua emancipação política. Objetivando chamar a atenção das autoridades, Padre Cícero, Floro Bartolomeu, Padre Alencar Peixoto, Joaquim André e tantos outros, pregaram a desobediência civil ao povo ao propor que “(...) não se pagaria mais impostos ao Crato” (05) Tal movimento culminou com uma passeata realizada no dia 07 de setembro de 1910, pelas ruas de Juazeiro, em prol da independência da vila. À frente de todos, Paulo Maia conduzia uma bandeira verde-amarela com os dizeres “Viva a Independência!” (06).
Eis que em 1913 irrompe a chamada “Sedição de Juazeiro” com o objetivo de depor o governador do estado, Major Franco Rabelo. Para concretizar esse intento, Dr.Floro armou um expressivo contingente de bandidos e cangaceiros, recrutando os mais afamados pistoleiros de Pajeú das Flores, Paraíba, entre eles, Zé Pinheiro, Senhorzinho, Antonio Godê, Mané Chiquinha, Côco Seco e Quintino Feitosa. Para as funções de subdelegado foi nomeado o Major Nazário Landim (07), “indivíduo de péssima conduta” (08).
Nos idos de 1913/14 imperou no nosso Estado completa selvageria. No Cariri, principalmente, um número incalculável de crimes foram praticados, com a conivência das autoridades, sem nunca ter sido tomadas as providências legais cabíveis. Após o término do movimento sedicioso de Juazeiro em março de 1914, a cidade ficou totalmente lotada de facínoras remanescentes da guerra. Bandidos de alta periculosidade, sem trabalho,  perambulavam pelas ruas bebendo, fazendo confusões, provocando brigas e matando pessoas.
Como a ociosidade é a mãe de todos os vícios, Mané Chiquinha lembrou a Nazário Landim que seu desafeto, Paulo Maia, andava impune na cidade. Não obstante as ponderações iniciais, o subdelegado contrata o pistoleiro por 100 contos de réis e uma mula. (09) Xavier de Oliveira insinua, nas entrelinhas, que um crime envolvendo uma pessoa de prestígio como Paulo Maia tinha que haver o consentimento do chefe, no caso, presumo eu, Dr.Floro Bartolomeu. (09). Há alguma razão para se aceitar a tese, posto que tanto o Coronel Aristides, pai de Paulo, quanto o cunhado Joaquim Inácio Figueiredo faziam oposição ao Médico e ao Padre Cícero. (10)
Paulo Maia residia numa casa, hoje demolida, localizada à Rua do Brejo, em frente à Matriz de Juazeiro. Na noite de 09 de junho de 1914, enquanto conversava com o vizinho Doroteu Sobreira, foi avisado por este que parecia haver alguém escondido no matagal à frente da casa. Paulo Maia não levou à sério a observação do amigo e continuou conversando alegremente. Mané Chiquinha, aproveitando a escuridão da noite, escondido entre o pasto de bamburral, mirou a carabina modelo 1908, dormiu na pontaria e disparou um certeiro tiro que varou o peito da vítima indefesa.
 4-            VINGANÇA
 Após o assassinato de Paulo Maia, Mané Chiquinha enfronhou-se pela Serra do Araripe e vivia em lugar incerto e não sabido. Porém, em decorrência da determinação do Governador do Estado, Benjamim Barroso, em eliminar de vez o banditismo no Ceará, convocou ao palácio o Coronel Medeiros e deu-lhe uma ordem seca: ”Você vai ao Cariri e outras cidades do sertão. Não poupe bandidos. Execute-os sumariamente.” (11). A mesma incumbência foi dada pelo Governador ao Tenente Peregrino Montenegro quando o nomeou delegado de Campos Sales: “Soube que é homem disposto. Liquide todo criminoso nato.” (12). Seguindo as determinações recebidas, perseguindo a bandidos na Serra do Araripe, o Tenente Peregrino executa sumariamente os cangaceiros Bimbão, Caxeado, Pedro Paulo e Mané Chiquinha. (13).
Quanto ao autor intelectual, Nazário Landim, este achou mais prudente se afastar da região e por muito tempo não se soube de seu paradeiro. Há certa probabilidade que tenha se refugiado na cidade de São João do Rio do Peixe, hoje Antenor Navarro, na Paraíba, local onde seu primo e conselheiro Quinco Vasques fugindo de uma briga em Lavras da Mangabeira, viveu sob a proteção do Padre Joaquim Cirilo Sá. (14)
Após 72 anos dos fatos ocorridos na Matriz de Nossa Senhora da Penha e 14 da morte de Paulo Maia, Nazário Landim apareceu às caladas da noite, no Crato, com o intuito de pegar o trem em rumo a Missão Velha onde viviam seus parentes. Enquanto aguardava o passar das horas para o embarque, entrou em um quiosque, ao lado da estação ferroviária, onde os passageiros tomavam café,fumavam,conversavam, à espera da partida do trem. Nesse ínterim, foi reconhecido por um padeiro que incontinentemente correu até a casa de Pedro Maia, irmão de Paulo, bateu à porta e falou:
- “Seu Pedro, quanto o senhor paga pelas alvíssaras?”.
- “O que você quiser. O que foi?” Retorquiu Pedro (015).
-“ Nazário Landim está aqui no Crato. Na estação de trem.” Respondeu o padeiro.
Era início da madrugada do dia 28 de julho de 1928. Pedro Maia, também conhecido por Pedro Aires dirigiu-se à cidade de Juazeiro do Norte e foi ao encontro dos dois filhos homens de Paulo Maia, Zezé e Odilon, e lhes falou:
“- O homem que matou seu pai está no Crato. Se querem vingar a morte dele a hora é essa.”
 Em companhia dos jovens, Pedro se dirigiu à estação ferroviária do Crato. Entregando um revólver à Zezé, o mais velho, apontou o Nazário e disse:
-“É aquele o homem. Vá lá e mate-o!”.
Consta que Zezé titubeou. É verdade que teve medo de executar a tarefa. Vendo a indecisão do sobrinho, Pedro Maia falou ríspido:
- “Vejam como é que se mata um homem!”.
Secamente se dirigiu ao encontro de Nazário e para certificar-se que era ele mesmo, embora o conhecesse, indagou:
- “Com quem tenho o prazer de falar?”.
Pressentido o desfecho macabro daquele encontro, pálido e afásico respondeu:
 -“Com Nazário, seu criado.”.
“- Eu sou irmão de Paulo Maia. Levante-se para morrer. Você nunca mais mata um irmão de um homem!”
Surpreso, Nazário não se levantou. Nisso, Pedro Maia desfechou alguns tiros quase à queima roupa. Nazário caiu emborcado na mesa do bar e exalou seu último suspiro.
Encerrava-se assim  drasticamente uma desavença costurada por tanto tempo. Durante 72 anos, vidas foram ceifadas em nome de um tempo e costumes que queira Deus não se repitam nunca mais.
 NOTAS
 01 - Os dados sobre a descendência, nascimento e morte de Paulo Maia  encontra-se no artigo de Bruno de Menezes “Uma Parcela da Família Menezes do Cariri”, revista       Itaytera nº. 5, página 177 -  Crato-Ce. 1959.
02 – Irineu Pinheiro, Efemérides do Cariri pág.142. Imprensa Oficial do Ceará.          Fortaleza 1963.
“1856, 8 de setembro – Eleições na matriz do Crato para juiz de paz e  membros   da câmara municipal. Morreu o eleitor José Gonçalves    Landim, pelo Partido    Liberal, baleado na igreja pela força pública comandada pelo delegado local que  era conservador (...)”.
Joaryvar Macedo in O Império do Bacamarte, pág.25. Edição UFC.        Fortaleza    1992 afirma: “Acontecimento sangrento, de bastante repercussão, se deu em 1856,   aos 8 de  setembro. Por ocasião de eleições de membros da   câmara   municipal e juízes de  paz, no recinto da Matriz de  Nossa Senhora  da Penha, no Crato, a força pública   promoveu violentíssimo  ataque aos  eleitores, visando o Partido Liberal. Da     agressão,    comandada  pelo próprio delegado substituto em exercício, José Ferreira de Menezes,  resultaram na morte do tenente-coronel José Gonçalves  Landim e  ferimentos em várias pessoas (...)”.

03 – Guilherme Chambly Studart (Barão de Stuart) & Newton Jacques Studart –    Dicionário Biobibliográfico Cearense 2ª edição,  pág.305/306. Tipografia          Progresso 1980. Aborda sobre a vida    do     deputado Aristides        Ferreira de Menezes.
  04 – Guilherme Chambly Studart. O.Cpág. 306.
 05-     Amália Xavier de Oliveira – O Padre Cícero que eu conheci.        Pág.133 Rio de          janeiro 1969
“(...) o padre Cícero incentivou o povo de não mais pagar imposto ao     Município   de Crato, desta vez, sem complacência.”
06 –  Idem, ibidem.
“Paulo Maia, ardoroso revolucionário, conduzia à frente a bandeira        verde-amarela, com os dizeres ‘VIVA A NOSSA    INDEPENDÊNCIA’”.
 07 – Joaryvar Macedo. Temas Históricos Regionais. Nota na pág.47.   Secretaria de          Cultura e Desporto. Fortaleza 1986.
 08 -   Joaryvar Macedo. Império do Bacamarte pág.72. Edição UFC.    Fortaleza-Ce          1992:
“Indivíduo de péssima conduta, o major Nazário Landim fruíra,  entretanto, da          confiança do coronel Antonio Luís, que o investiu  nas funções de subdelegado    de polícia do importante município  de Juazeiro.”
 09-           Antonio Xavier de Oliveira, Beatos e Cangaceiros pág.17 Rio de Janeiro. O autor deixa aberta a possibilidade do assassinato de Paulo Maia ter   sido do conhecimento de Dr.Floro ou do coronel Antonio Alves  Pequeno, este último,   inimigo político de Aristides Ferreira de       Menezes,    pai de Paulo. De pronto, o autor elimina a hipótese   do envolvimento do padre Cícero:
         “(...) Em geral, no Sertão, os cangaceiros só cometem um    crime, quando teem as   costas quentes,isto é quando teem patrão  forte e de cima na política. (...) (um  coronel, ou um doutor, nunca  um padre)” (sic).
 10 –  Ralph Della Cava. Milagre em Joaseiro pág. 151. Paz e Terra. Rio  de Janeiro          1977, apud inéditos de Aires de Menezes.
“(...) não se tornando inimigos do padre Cícero”... ficaram afastados...    Aristides          Ferreira de Menezes, o velho João da Rocha, Pedro    Jacintho da Rocha, Cel.Coimbra, Joaquim Inácio de Figueiredo.         (...) (sic)
 11 – Abelardo Montenegro. Fanáticos e Cangaceiros pág.pág.268.  Ed.Henrique ta          Galeno. Fortaleza 1973. Apud entrevista do Sr. Antonio Botelho Filho, presente          que estava na hora da   recomendação do governador.
12 – Abelardo Montenegro, o.c.pág.269. Informações prestadas ao autor    pelo próprio Peregrino Montenegro.
 13 –  Abelardo Montenegro. O.c.ibidem.
 14 –  Joaryvar Macedo, Império do Bacamarte pág.119, esclarece onde o coronel         Quinco Vasques se refugia da polícia:
(...) Quinco Vasques (...) se refugia sob a proteção Joaquim Cirilo de      Sá, o célebre padre Sá do antigo São João do Rio do Peixe, hoje     Antenor Navarro, Paraíba       (...)”.
         Por essa razão somos levados a crer que Nazário Landim após o assassinato de Paulo Maia tenha se refugiado em Antenor Navarro.
 15 -   Os detalhes da vingança perpetrada por Pedro Aires nos     foi     transmitida por          Odilon Figueiredo,filho de Paulo Maia,  presente na hora do assassinato. É fidedigno e tem exatidão   o diálogo,   posto que do conhecimento de todos e por   uma  testemunha do caso,  o português Ângelo de Almeida que narrou os   acontecimentos a    meu pai Antonio Adil da Nóbrega.

BIBLIOGRAFIA.
 Della Cava, Ralph. Milagre em joaseiro. Rio de Janeiro, Paz e Terra,       1976.
 Macedo, Joaryvar. Temas históricos regionais. Fortaleza, Secretaria de Cultura e Desportos, 1986.
 Macedo, Joaryvar. Império do bacamarte. Fortaleza, Universidade  Federal do Ceará, 1990. 
 Montenegro, Abelardo. Fanáticos e cangaceiros. Fortaleza. Editora  Henriqueta Galeno, 1973.
 Revista Ytaytera, Crato. Instituto Cultural do Cariri, 1959.
Oliveira, Antonio X. Beatos e cangaceiros. Rio de Janeiro
 Oliveira, Amália X. O padre Cícero que eu conheci. Rio de Janeiro,  1969.
Studart, Guilherme C. & Studart, Newton J. Fortaleza, Tipografia Progresso, 1980.

CAPITÃO JOSÉ GONÇALVES BEZERRA
                          Por Fernando Maia da Nóbrega                    
        
   “O senhor, Capitão, vai pagar caro o couro de Trancelim”
                                                (Severino Tavares)

Nome:  José Gonçalves Bezerra
Nascimento:    Sem informações
Morte: 10 de maio de 1937. –Sítio Conceição, Crato-Ce.
Motivo: Vingança
Acusados: Severino Tavares e Fanáticos do Caldeirão.

1-         Antecedentes
            Por volta de 1890, chega a Juazeiro atraído pelos milagres ali ocorridos no ano anterior e pela fama de santidade do Padre Cícero um paraibano de nome José Lourenço da Silva.
            De princípio, fixa-se na cidade e vai trabalhar como agricultor pelos sítios. Aos poucos vai se inserindo, de maneira marcante, na vida religiosa e se transforma em renomado beato.
            Ao correr do tempo passa a ser admirado por sua capacidade de trabalho e inteligência. Observado pelo Padre Cícero é aconselhado a arrendar terras na região onde pudesse trabalhar por conta própria. Seguindo o conselho recebido, José Lourenço aluga um sítio, pertencente a João de Brito numa localidade chamada Baixa da Anta na cidade do Crato.
            Na nova paragem fez grandes plantações de macaxeira, feijão, cana de açúcar de açúcar e inúmeras fruteiras. Em virtude de sua fama de caridoso e acolhedor de pobres, logo seu sítio recebe grande quantidade de fanáticos que lá foram morar em busca de trabalho e religiosidade.
            Uma ou duas vezes por mês, José Lourenço, juntamente com seus moradores, ia a Juazeiro assistir missas e visitar o Padre Cícero. Em uma de suas idas, recebeu do reverendo um boi Zebu, chamado Mansinho, para ser criado na Baixa da Anta. 
            O animal foi cuidado com todo zelo e carinho pelos fanáticos, mormente por se tratar de uma doação feita pelo “Santo Padim Cícero”, como gostavam de se referir ao sacerdote. Aos poucos, a estima dedicada ao Boi Mansinho foi se transformando em adoração. Os chifres eram adornados com flores e fitas; sua urina transformada em remédio milagroso e as pontas das unhas em amuletos.
            Monsenhor Joviniano Barreto, pároco de Juazeiro, denunciava às autoridades eclesiásticas da região que na Baixada Anta os fanáticos estavam se desviando da ortodoxia da Igreja Católica, e se praticando o fetichismo em total heresia aos cultos da Santa Igreja.
            Dr. Floro Bartolomeu atendendo os anseios do Monsenhor e evitar críticas da imprensa, pôs fim no totemismo ao prender o Beato José Lourenço e mandar sacrificar o Boi Santo na presença de muitos fanáticos.
            Em 1926, João de Brito, cedendo às pressões, desfaz o acordo de arredamento do sítio Baixa da Anta forçando o Beato José Lourenço ocupar uma propriedade do Padre Cícero conhecida como Caldeirão dos Jesuítas também localizada na cidade do Crato.
            Exatamente como antes procedera, o Beato José Lourenço juntamente com 300 famílias faz grandes plantações de algodão, imensos canaviais, constrói dois açudes, ergue uma capela e várias casas no novo assentamento.  Tudo que era produzido pertencia a todos inexistindo um dono exclusivo.
            Em 1934, com a morte do Padre Cícero, muitos os sertanejos desamparados de um líder foram ter guarida nas terras do Caldeirão. Se havia falta de emprego no Cariri, nas terras do Beato,ao contrário, todo mundo trabalhava e mais ainda: o que era plantado ou criado pertencia à coletividade inexistindo a figura do patrão.
            No seu inventário, o Padre Cícero deixara todas as terras que lhe pertenciam para os padres salesianos. E como a Igreja já se pronunciara contra as distorções religiosas praticadas na comunidade do Beato Zé Lourenço e, principalmente, tendo receio que os fanáticos se apoderassem das terras ocupadas, o bispo procurou um meio de expulsá-los de lá.
            Usando o prestígio do seu partido político, a LEC – Liga Eleitoral Católica – representantes da Igreja pressionaram o governo para extinguir a comunidade do Caldeirão sob o argumento de uma possível célula comunista.
            Reunidos no Palácio da Luz em Fortaleza, o Governador do Estado, Dr. Menezes Pimentel juntamente com o Secretário de Estado Andrade Furtado, o Chefe de Polícia Cordeiro Neto e o Bispo do Crato D.Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva decidiram acabar com o Caldeirão. (01)
            A primeira atitude tomada pelo Chefe de Polícia foi enviar dois agentes secretos ao Caldeirão para se inteirar da realidade. O primeiro era um agente civil que se infiltrou como fanático; o outro era o Capitão Zé Bezerra que se passando por industrial dizia estar ali com o intuito de instalar uma usina de beneficiamento de oiticica.
            Depois de dias de observação, embora não tenha verificado a existência de armas, o relatório do militar classificava a situação como “perigosa” e era favorável a sua desativação em virtude do caráter comunista na distribuição dos lucros.
            Em setembro de 1936, sob o argumento que a comunidade do Caldeirão, com mais de 1500 habitantes, era uma ameaça ao Estado, um contingente de 150 policiais foi enviado para a desocupação do lugarejo. Enquanto os pobres sertanejos abandonavam suas casas, o Capitão Zé Bezerra, nomeado interventor do arraial, ordenou o desarmamento dos  moradores, sendo encontrado somente instrumentos de trabalho: enxadas, foices e machados. Em seguida, deu-se o prazo de cinco dias para os casados abandonarem o local e dois aos solteiros. Por último, a polícia queimou os casebres, os depósitos de algodão e víveres. Consta que saqueou todo bem que tivesse e liquidez imediata.
            Foi precisamente durante sua permanência na direção do Caldeirão que Zé Bezerra cometeu duas faltas gravíssimas aos olhos dos fanáticos: a tortura praticada numa mulher em meio a um interrogatório sobre o paradeiro de José Lourenço e ter causado a morte do cavalo Trancelim animal preferido do Beato. A revolta dos moradores se transformou em ódio e num sentimento perpétuo de vingança.
            Após a expulsão, os fanáticos se reagruparam sob o comando do Beato José Lourenço em um lugar inóspito na Serra do Cariri que englobava dois sítios: Mata dos Cavalos e Curral do Meio.
           
3 -        A Morte do Capitão Zé Bezerra
            José Gonçalves Bezerra era reconhecidamente um homem bravo, corajoso, experiente policial, sendo o oficial escolhido pela Polícia Militar para combater o cangaço no Estado na segunda e terceira décadas do século transato.
            A literatura cearense é pródiga em referência sobre o José Bezerra. Otacílio Anselmo eminente escritor caririense, oficial da polícia e contemporâneo do Capitão, o descreve como “(...) policial arbitrário e cruel”. O autor de “O Padre Cícero – Mito e Realidade” – diz ter presenciado uma surra aplicada por aquele policial em um cabo da polícia dentro do quartel da capital. (02).
            Nertan Macedo, outro escritor, define o Capitão Zé Bezerra como “(...) um dos maiores bandidos autoridades que se teve notícias no Ceará.”. (03)
            É bem verdade que na incessante procura a pistoleiros e cangaceiros no Ceará, verificada entre os anos de 1920 a 1930, coube na época aos Tenentes Peregrino Montenegro e Zé Bezerra a missão de exterminar banditismo no interior do Estado.
             Ressalte-se que foi sob o comando de Zé Bezerra que ocorreu a “Tragédia das Guaribas”, onde Chico chicote e seus companheiros foram trucidados em 1927 em Brejo Santo - Ce.
            Entretanto, em que pese os inúmeros riscos de vida passados nas refregas contra cangaceiros, foi durante a pacífica tomada do Caldeirão em 1936, que o Capitão Zé Bezerra cometeu dois graves erros, os quais foram fundamentais para a execução de sua morte no ano seguinte. O primeiro, quando em um interrogatório sobre o paradeiro do Beato José Lourenço, Bezerra usou de meios torturantes ao queimar os seios de uma mulher com o charuto que fumava. O outro, talvez o mais grave aos olhos dos crentes, quando sob o efeito de bebida alcoólica, cavalgou o Trancelim, cavalo de estimação do Beato. Durante toda noite percorreu a região, açoitando o animal e às carreiras passava pelas ruelas do arraial. Recolhido à estrebaria, exausto o cavalo viria a morrer no outro dia. Ressalte-se que havia a crença entre os fanáticos, aceita como a mais pura verdade, que ao morrer o Beato subiria aos céus montado no Trancelim. O Capitão Zé Bezerra cometeu a heresia de profanar a religiosidade daquele povo.
            Tempos depois, quando já ocupavam a Mata dos Cavalos, os moradores se dividiam em duas correntes de pensamento. De um lado, sob o comando teocrático e pacifista de José Lourenço, pregava-se o perdão aos responsáveis pela diáspora do grupo. Do outro, sob a liderança político-militar de Severino Tavares, clamava-se pela vingança e a reconquista do Caldeirão.
            Os seguidores de Severino Tavares nutriam e armazenavam um ódio e um desejo de vindita contra o Capitão José Bezerra. Para a consecução de seu intento, tramaram um plano arrojado e inteligente que seria o de atrair o militar à Mata dos Cavalos e assassina-lo! Uma cilada foi tramada e posta em prática.
            Em maio de 1937, apareceu no quartel da polícia em Juazeiro um cidadão de nome Sebastião Marinho a procura do Capitão José Bezerra para apresentar uma queixa. Ao ser atendido pelo militar, informou que suas terras haviam sido invadidas pelos fanáticos do Beato José Lourenço e que é conhecedor de um plano de Severino Tavares de invadir e saquear a cidade do Crato. Embora muito experiente, o Capitão de nada desconfiou e tomou somente uma providencia antes da diligência: o querelante teria que ir com a polícia ao local.
            No dia 10 de maio de 1937, formou-se uma volante com objetivo de ir a Mata dos Cavalos assim estruturada:
1 -        Capitão José Bezerra
2 -        Iº Sargento Anacleto Gonçalves Bezerra
3 -        2º Sargento José Marcolino Brasileiro
4-         2º Sargento Marcelino
5 -        3º Sargento Jaime Olimpio Rocha
6 -        Cabo Benigno Gomes
7-         Soldado Raimundo Pereira
8 -        Josafá Torquato Gonçalves
9 -        Soldado José Dantas (Corneteiro)
10 -      Soldado Eugênio Cesário da Silva
11 -      Soldado Álvaro Gomes Bezerra (03)
            Ressalte-se que o sargento Anacleto e o soldado Álvaro eram filhos do Capitão.
            Ao constatar o pequeno número de policiais destacado para a missão, Sebastião Marinho, talvez com o intuito de despistar suspeita, disse: •.
            - “Capitão, os soldados são pouco...”.
            Talvez por ser conhecedor do caráter pacifista dos fanáticos e ignorar a nova faceta belicista no grupo, respondeu:
            - “São suficientes.”
            Partindo em cima de um caminhão cedido pela prefeitura de Juazeiro passaram pela delegacia do Crato, onde o Capitão foi alertado pelo tenente João Lima, comandante do destacamento daquela localidade, sobre o pequeno número de soldados. Mais uma vez o José Bezerra dispensou ajuda.
            Ao chegar perto do local destinado, O Capitão Zé Bezerra mandou parar o carro e ordenou que os policiais entrassem em forma. Em seguida, deu alguns esclarecimentos e ordenou que o sargento Marcelino e soldado Cesário ficassem guarnecendo o caminhão. Aos demais, que o seguissem.
            Adentraram por uma vereda que dava acesso ao arraial. Em dado momento, inesperadamente saiu de dentro de um espesso matagal uma mulher correndo. Com receio que ela fosse avisar aos fanáticos, o Capitão com o grupo saiu em sua perseguição.
            Eis que inopinada e inesperadamente os militares são cercados e atacados ferozmente por vários fanáticos, surgidos como fantasmas do meio da mata, armados de cacetes e foices.
            Em poucos minutos, jaziam inertes Capitão Zé Bezerra, sargento Anacleto, cabo Benigno e o soldado Josafá.
            Do caminhão se ouviu o estampido de tiros oriundos da mata. O soldado Cesário falou para o sargento Marcelino:
            - “O Capitão foi atacado, sargento”.
            “Tenho pena do Capitão, mas ele foi avisado que os soldados eram insuficientes” Respondeu.
            Cinco minutos depois Cesário viu um vulto se arrastando pelo mato: era o sargento José Olímpio sangrando e com golpes profundos na cabeça. Arquejando, a vítima disse:
            -“Não deixem que os bandidos acabem de me matar...”.
            Logo após, ouviram uns novos gemidos. Era o sargento Marcolino com alguns soldados feridos.
            - “Fomos atacados de surpresa. Vi o Capitão estirado no chão e o Anacleto também. Acho que morreram.” - Disse Olímpio.
            O sargento Marcelino reuniu os soldados capazes de se moverem, mesmo os feridos em pequena gravidade, e foram ao encontro do Capitão. Lá se depararam com um quadro tenebroso: com a cabeça esfacelada, ainda segurando o parabelum, jazia morto o Capitão Zé Bezerra. Ao seu lado, o filho Anacleto. Mais adiante o corpo do cabo Benigno, e do soldado Josafá e mais  três cadáveres de fanáticos.
            Assim morreu como viveu o bravo militar: da maneira mais trágica e cruel. Morreu como um dia lhe dissera Severino Tavares:
            -“O senhor, Capitão, vai pagar caro o couro de Trancelim!” (04).

N O T A S
01 -      João Xavier de Holanda – Polícia Militar do Ceará em Meio Século de     República        1939 Vol. 3 pág. 47. Editora Inesp. Fortaleza 2003.
 02-       Otacílio Anselmo e Silva. Brejo Santo sua história e sua gente – A            Tragédia de Guaribas pág.190. Secretaria de Educação do Estado do          Ceará. Fortaleza 1981.
 03 -      N.A. A relação completada dos componentes da volante policial nos foi   fornecida pelo sargento Eugênio Cesário da Silva, na cidade de em     Juazeiro do Norte       em 1981. Em1937, Cesário era soldado da Polícia   Militar e esteve presente no   massacre dos policiais.
04 -      João Xavier de Holanda, O.c.pág.58.

BIBLIOGRAFIA     
Holanda, joão xavier. Polícia Militar do Ceará em meio século de república 1889-1939
Fortaleza. Editora INESPA   ,2003
Silva, otacílio anselmo. Brejo Santo sua história e sua gente – Tragédia de Guaribas
Secretaria de Educação do Estado do Ceará. Fortaleza 1981.  

                                                                      

QUINTINO FEITOSA 
Por Fernando Maia da Nóbrega


 "Fui eu quem matou seu irmão. É seu dever vingá-lo (...)” (Quintino Feitosa).
                                  
                                              
1 - Súmula

Nome:                  Quintino Feitosa
Origem:                Pajeú das Flores – Paraíba
Nascimento:         S/ Informações             
Morte:                 Morto em 14.11.1914 - Juazeiro do Norte
Motivo:                Vingança
Autor:                  Zé Pinheiro e bando

1 – Duas Cidades
No alvorecer do século passado, a cidade de Pajeú das Flores, encravada no sertão paraibano, era um centro exportador de bandidos e pistoleiros para todo nordeste brasileiro. Na outra ponta do fenômeno social, Juazeiro, situada no Cariri cearense, se tornara o ponto de convergência para beatos, penitentes e desordeiros arrependidos. Inúmeros nordestinos imigravam para cá em razão da fama de santidade que circundava o Padre Cícero.
   Embora diametralmente opostas, as duas cidades se complementavam. Se Pajeú das Flores já estava se tornando perigosa para os bandidos, Juazeiro recebia de braços abertos toda e qualquer pessoa desejosa de mudar de vida.         Quintino Feitosa se constitui o exemplo perfeito de pistoleiro que desembarcou em Juazeiro com o intuito de reformular a vida sob o manto protetor de “Meu Padim” (01). Trazendo a família, se fixou nas Malvas, distante três quilômetros da sede do município, e se dedicou à agricultura. Em pouco tempo de residência na cidade, já se caracterizava como pessoa responsável, trabalhadora, ordeira e merecedora da estima de todos. Sabia-se, também, que possuía a fama de homem valente, muitas vezes posto à prova em sua terra natal. Após um ano de sua chegada, nasce-lhe um filho que é apadrinhado pelo Padre Cícero.
   A confiança depositada pelos juazeirense em Quintino Feitosa era tanta que na “Revolução de Juazeiro” em 1914, coube a ele a deferência de proteger a cidade das tropas invasoras, no valado das Malvas, que seria uma espécie de última “muralha” protetora. Entretanto, outros tipos de “pajeuzeiros” desembarcaram no Cariri não para mudar o estilo de vida, mas ao contrário: chegaram a Juazeiro contratados por Dr.Floro Bartolomeu para combater nas forças revolucionárias. Entre muitos, podemos destacar Pedro Bilé, Antônio Godê, Zé Luiz, Zé Ferreira do Bigodão. Cícero Veado e os irmãos Senhorzinho e Zé Pinheiro.

2 - Os Dois Irmãos.
“Francisco Pinheiro, mais conhecido por Senhorzinho, tinha o aspecto grotesco, abominável, a ponto do escritor Xavier de Oliveira descrevê-lo como um Quasímodo:” A figura macabra de Senhorzinho inspirava repugnância a quem quer que o visse’. (2) Usava sempre um rifle, pistola, facão rabo de galo e um punhal de três palmos tudo espalhado num corpo desengonçado, sem prumo atlético, deselegante e feio. Submisso no falar e de uma religiosidade piegas
   De comportamento estranho, Senhorzinho chegava aos extremos. Ora se acorvadava, chegando a tremer e adoecer como ocorreu quando Antônio Godê o enfrentou. (03) De outra feita, se portava com bravura e destemor em combate, conforme ficou provado ao atacar a casa de João Araújo em Juazeiro. Enquanto seus parceiros saíam apressados, no momento em que os Araújos revidavam o ataque, Senhorzinho deu as costas e saiu vagarosa e despreocupadamente.
   Adverso do irmão, Zé Pinheiro é descrito por Xavier de Oliveira  como homem de belas feições e elegante: “Era um homem bonito e simpático. Como forma humana, um tipo perfeito: uma cabeça de árabe num corpo romano (...)” (4).
   Completamente diferente de Senhorzinho, não freqüentava a igreja e caracterizou-se por ser franco, destemido, embora não fosse possuidor de nobres sentimentos. Era capaz de matar às escondidas e retroceder nos momentos periclitantes
   Dois episódios retratam bem o comportamento de Zé Pinheiro. O primeiro, quando da “Revolução de 1914”, recebeu a missão de incitar os soldados do governo com o objetivo de fazê-los gastar munição. Desobedeceu a ordem e foi além: invadiu a cidade do Crato saqueou e soltou presos, dentre os quais Zé Pedro. (02) No segundo, Antonio Godê se encontrava no café de Onofre, em Juazeiro, comentando sobre um crime que Zé Pinheiro cometera recentemente quando ele inopinadamente entra jogando valentia e dizendo aos presentes:
-“Eu me danando viro o cão e troco tiro até com o diabo!”.
Antônio Godê o fita calmamente diz:
- “Pá que tudo isso?”.
-“É isso mesmo que você ouviu. E é para você mesmo!”.
Antônio Godê puxou um punhal e falou severo e calmo:
-“Dêem licença, me deixem dar um ensino a esse cabra!”.
Amedrontado Zé Pinheiro despistou:
- “Eu tô é de brincando com você, Godê...” (05).
Mesmo com atitudes polarizando entre bravura e covardia, ficou conhecido como homem bravo, cruel e respeitado por muitos.

3 - O Conflito.
A participação de Zé Pinheiro em alguns episódios da “Revolução de 1914” foi decisiva. Invadira a cidade do Crato e participara do combate de Miguel Calmon. Nas ruas de Juazeiro ele exibia no dedo um anel vistoso e dizia ter pertencido ao Capitão João da Penha por ele assassinado...
   Em que pese suas façanhas e fanfarronices, para os romeiros a auréola de herói revolucionário pousava sobre a cabeça de Quintino Feitosa em razão da defesa que este fizera nas trincheiras das Malvas.
   Ao findar o movimento bélico, a cidade ficou repleta de pistoleiros, agora desempregados e vivendo na ociosidade passavam o dia bebendo e provocando badernas. Com o intuito de restaurar a ordem, Dr. Floro convocou Quintino Feitosa para ser o delegado municipal. Dando cumprimento à missão que lhe fora incumbida, ele impôs medidas e proibições que vieram a desgostar seus conterrâneos.
   Zé Pinheiro com inveja do prestígio do delegado, passou a destratá-lo e espalhar um boato de que Quintino era inimigo dos pistoleiros. Certo dia, João Batista, um dos paraibanos vindo de Pajeú das Flores, não inconformado com o envolvimento de sua irmã com um homem casado, chamado Nezinho, após uma pequena discussão, mata-o com três tiros. Depois da prática do assassinato, Batista corre até a casa do Delegado e se entrega à prisão.
Zé Pinheiro em sendo amigo do falecido Nezinho jurou vingá-lo. Formando um grupo de aproximadamente 50 homens se dirige à cadeia pública com a intenção de linchar o criminoso. Porém, ao ficar sabendo que Batista se encontrava na casa do Delegado e não na cadeia, Zé Pinheiro com seus comparsas, em represália, atacou a Coletoria Estadual por ser gerenciada por um cunhado de Quintino.
   Senhorzinho age diferentemente do irmão: vai direto às Malvas e pede que o preso lhe seja entregue. O Delegado, no entanto, responde-lhe:
  -“Senhorzinho vá-se embora (...) vá chamar seu irmão (...)”.
- “Eu nasci foi só!” Replicou. (06)
  Senhorzinho em seguida sacando de um rifle faz vários disparos em direção à casa de Quintino, o qual ao revidar fere mortalmente o agressor.
   A notícia logo se espalhou em toda a cidade. Zé Pinheiro com seu bando dirigiu-se às Malvas e lá encontrou seu irmão agonizando.
   Neste ínterim, chega Padre Cícero e dá os últimos sacramentos ao moribundo que debaixo de um cajueiro morre.
   Neste momento aconteceu a mais trágica e heróica atitude que um homem poderia tomar: Quintino, sereno e grave, fitou Zé Pinheiro e disse:
   “- Fui eu quem matou seu irmão, é seu dever vingá-lo!” (07).
   Zé Pinheiro calou-se e levou o irmão para ser sepultado.
                                                   
4- A Morte de Quintino.
Após a inumação do corpo, um clima tenso se apoderou da cidade. Vários cangaceiros, sob a liderança de Cícero Veado, se dirigiram à Praça da Liberdade para se encontrarem com Zé Pinheiro.
   Por volta das quatro horas da tarde do dia 13 de novembro de 1914, Zé Pinheiro acompanhado por cerca de 100 homens dirigiu-se às Malvas para vingar a morte de seu irmão. Entre os cangaceiros se encontravam os mais destemidos bandidos do nordeste, “(...) como Zé Pedro, Mestre Luiz, Zé Felipe, Cícero Veado, Zé Terto, Zé Ferreira do Bigodão (...)” (08).
  Ao chegarem às Malvas, protegidos dentro das valas que guarneceram a cidade durante a Revolução, atiraram incessantemente na direção da casa de Quintino. Com a ajuda de 15 pessoas, o Delegado reagia ferozmente.
  Cena de rara bravura se presenciou: ao se aproximar a meia-noite, pressentindo o fim da munição, Quintino pediu aos amigos que abandonassem a casa porque o fim estava perto. Ninguém aceitou a proposta, pelo contrário, heroicamente um dos companheiros furou o cerco inimigo e foi buscar munição em Juazeiro.
   O combate atravessou a noite toda. Ao raiar o dia, alguém lembrou a Zé Pinheiro que Quintino possuía o “corpo fechado” por que tinha roubado uma hóstia consagrada e a trazia guardada em um escapulário preso ao peito. Era crença generalizada no nordeste brasileiro que certos amuletos sacros eram imunes à bala. Só havia um jeito de Quintino morrer: se a bala que o atingisse fosse molhada em água benta ou feita de contas de rosário e fosse disparada da torre de uma igreja.
   Com base nesses argumentos, Zé Pinheiro dirigiu-se com alguns amigos para uma igreja existente nas proximidades e passou a disparar tiros.
   Quintino prevendo seu fim conscientizou sua mulher da necessidade de fugir, pois havia a possibilidade de Zé Pinheiro matar seu pequeno filho em represália à morte de Senhorzinho. Por voltas das 3 horas da manhã, quando preparava a fuga da esposa, Quintino foi alvejado nas costa por um tiro partido da capela dado por Zé Terto.          -“Covardes!” Gritou e caiu.
   A esposa desesperada queria ficar ao lado do marido morto. Porém convencida pelos amigos, furando os canaviais dirigiu-se para a residência do Padre Cícero. Paulatinamente os outros combatentes foram deixando a casa.
   O fogo cessara. Zé Pinheiro invadiu a casa do inimigo e o encontrou estendido no chão. Presenciou-se, então, uma cena de barbárie nunca vista: Zé Pinheiro diante do cadáver inerte de Quintino, cuspiu-lhe no rosto e chutou o corpo. Em seguida, esbravejando e descontrolado apunhalou diversas vezes seu indefeso inimigo. Segurando pelas pernas de Quintino, o puxou até o cajueiro onde falecera seu irmão. Completamente descontrolado, Zé Pinheiro sacou uma peixeira e cortou os lábios da vítima. Em seguida, pediu que os companheiros trouxessem cachaça, pois iria beber e tirar o gosto com a língua do falecido! 
A cena cruel foi censurada e reprovada por seu próprio grupo:
-“Não faça isso! Ele era um cangaceiro honrado”, disse Calangro. (09)
   O intento de Zé Pinheiro não foi concretizado porque em seguida chegou o Padre Cícero que além de criticar a atitude de Zé Pinheiro dispersou todos os cangaceiros ali presentes e levou o cadáver para ser sepultado.
   Assim se desenrolou o fim trágico de um homem valente e respeitado.
Tempos depois, Zé Pinheiro teve morte trágica na cidade de Matinha de Água Branca, Alagoas, onde tinha ido para “fazer um serviço”, ou seja, matar alguém. Descoberta sua intenção, foi morto, esfolado e jogado numa fornalha de uma olaria.
   Uma lei natural se cumpria: quem com o ferro fere, com ele é ferido.

NOTAS
1-N.A. “Meu Padrim” é a forma popular e carinhosa com que os romeiros nordestinos se referem ao Padre Cícero Romão Batista.
02 -Xavier de Oliveira-Beatos e Cangaceiros, p. 28. Rio de Janeiro                           1920
03- Idem, ibidem, p.173
04 Idem,ibidem, p. 214
05-Idem, ibidem, p. 237
06-Idem, ibidem, p. 188
07-Otacílio Anselmo – Padre Cícero mito e realidade, p.481. Editora    Civilização Brasileira S/A. Rio de Janeiro 1966.
08-Idem, ibidem, p. 482
09-Otacílio Anselmo, o, c., p. 483.

Bibliografia
Antonio Xavier de Oliveira – Beatos e Cangaceiros.[ s.n] Rio de Janeiro 1920
Amália Xavier de Oliveira – O padre Cícero que eu Conheci –Verdadeira história de Juazeiro do Norte – [s.n] Rio de janeiro 1969

Otacílio Anselmo – Padre Cícero mito e Realidade. Ed.Civilização Brasileira. Rio de Janeiro 1968.
 

MONSENHOR JOVINIANO DA COSTA BARRETO
 Por Fernando Maia da Nóbrega

                        “Meu casamento vai ser feito
            por Deus ou pelo diabo”
                                                                       (Manuel Pedro)
 1- SÚMULA
Nome:                  Joviniano da Costa Barreto
Filiação:              Roberto da costa Barreto
                   Cristina Gonçalves Barreto
Nascimento:         05 de maio de 1889 – Fazenda Cajazeiras - Tauá-Ce.
Morte:                  06 de Janeiro de 1950 – Juazeiro do Norte-Ce
Acusado:             Manuel Pedro da Silva (Pé de Galo)
Motivo:               O assassino sofria de demência mental e acusava o                        sarcedote de não fazer seu matrimônio com uma senhora                     já casada e que não tinha intenção nem poderia de casar                      com ele

2-                ANTECEDENTES.
 A morte trágica do monsenhor Joviniano Barreto ocorrida em 1950, em Juazeiro do Norte, no Ceará, não tem explicação somente no desequilíbrio mental de Manuel Pedro da Silva. As raízes desse assassinato se esparramam, se espalham, em um passado longínquo onde um sentimento recalcado, sedimentado e de profundo de rancor nutrido pelos fanáticos contra a Igreja Católica veio novamente à tona.
O povo sertanejo conhecido por sua religiosa às vezes pura e infantil, por séculos submissos às autoridades eclesiásticas, vinha se decepcionando com a Igreja ao correr do tempo. De princípio, testemunhou, à luz cristalina do dia, que considerável parcela dos padres, no século XVIII e XIX, tinha uma vida desregrada e coabitavam abertamente com uma ou mais concubinas, gerando filhos, num comportamento contrário ao que pregava a instituição religiosa.
Ao longo do tempo outras razões foram sendo acumuladas, gerando um cabedal expressivo de rancores e decepções. 
Em 1875, os padres lazaristas franceses chegaram ao Crato para compor o corpo docente do recém inaugurado seminário. Porém, em virtude da grande estiagem que assolou a região de 1877/79, onde a fome e a doença geraram inúmeras mortes, esses sacerdotes abandonaram a cidade deixando o povo sem a mínima assistência religiosa, fugindo para a capital do Estado. Essa atitude foi considerada um ato de extrema covardia, dando origem a um sentimento de repulsa principalmente por padres estrangeiros. (01)
Com a eclosão dos “Milagres de Juazeiro” ocorridos em 1889, admirados e tido como manifestação divina pelo povo, o que se presenciou, ao contrário do esperado por milhares de fiéis, foi a completa e total inaceitação dos referidos milagres pelo Bispo Diocesano e pela Cúpula da Igreja dominada à época no Ceará por padres franceses. A transformação da hóstia consagrada em sangue, no momento em que o padre Cícero efetuava a comunhão à beata Maria de Araújo, foi considerada pelo Bispo um acinte aos cânones da Igreja. E em que pese a petição feita por 05 padres e 34 cidadãos solicitando a Dom Joaquim, Bispo de Crato, uma revisão de suas deliberações, este permaneceu impassível no seu ponto de vista. (02)
O Prelado irresoluto, em resposta às pretensões dos juazeirenses, enviou uma comissão de inquérito com o intuito de averiguar os acontecimentos ditos sobrenaturais ocorridos na matriz de Nossa Senhora das Dores, acirrando ainda mais o conflito entre o clero e o povo.
Para surpresa do prelado, a primeira comissão de inquérito proclamava os Milagres de Juazeiro como sendo de origem divina! Inconformado com o resultado, Dom Joaquim envia uma segunda comissão, cuja conclusão levou o bispo a declarar “(...) o fenômeno do aparecimento de sangue nas sagradas partículas recebidas em comunhão por Maria de Araújo é mero efeito de casos puramente naturais” (03).
Para coibir a divulgação dos “Milagres de Juazeiro”, Dom Joaquim toma atitudes fortes e severas contra o padre Cícero. Proíbe-o de celebrar missa em Juazeiro, bem como, a realização de romarias e votos de promessas. Além do mais, o padre Cícero é ameaçado de excomunhão.
Um acontecimento em especial veio ferir os brios dos juazeirenses. Dom Quintino e Monsenhor Joviniano Barreto vieram a Juazeiro em 1917 e induziram ao padre Cícero a desdizer em público os milagres ocorridos em 1889.  Para os fiéis foi o auge da humilhação imposta ao seu padre venerado e amado. (04)
A animosidade popular contra a igreja oficial ia-se avolumando dia a dia e veio a se manifestar quando em 1921, o padre Pedro Esmeraldo, vigário de Juazeiro, resolveu demolir uma das torres da igreja por estar bastante deteriorada. Armados de cacetes e foices, vários fanáticos enfurecidos se revoltaram e não permitiram a destruição da velha da torre (05). Tal incidente levou ao vigário abandonar sua paróquia.
Em 1934, houve novamente uma rebelião popular dentro da Igreja de Nossa Senhora das Dores, quando os Caceteiros supunha que os comunistas invadiriam a capela para retirar a santa. Em que pese os argumentos do pároco, nada demoliu os ocupantes até a intervenção trágica da polícia com a morte de várias pessoas.
Mormente após o falecimento do padre Cícero ocorrido em 1934, a cidade de Juazeiro fervilhava de romeiros, penitentes e um sem número de beatos pregando uma religião distorcida dos parâmetros da Igreja Católica. À revelia da religião oficial, os fanáticos seguiam com seus cultos, crendices e orações próprias. Com o intuito de redirecionar o povo aos cânones da igreja católica, Dom Francisco Pires, 2° bispo da diocese, nomeou o Monsenhor Joviniano Barreto para vigário da cidade.
Seguindo as orientações traçadas, o novo pároco da cidade começou a orientar os fiéis em rumo de uma religiosidade mais ortodoxa. De princípio tentou retirar a idéia absurda que o povo detinha sobre o “Cristo-Rei” como sendo o anticristo. Mando confeccionar uma imagem do Cristo-Rei, a qual passeou em carro aberto pelas ruas da cidade e erigiu um altar a Ele dedicado. (06) Essa reorganização religiosa, a fama de inimigo do padre Cícero e do povo juazeirense, bem como a concepção geral de que ele fora o mentor intelectual do massacre do Caldeirão, foi estigmatizando no padre Joviniano um auréola de “persona non grata” pelos romeiros.

3-                A MORTE
Manuel Pedro da Silva, vulgo Pé de Galo, 39 anos, solteiro, desequilibrado mental, veio do Rio Grande do Norte para Juazeiro, aos moldes de tantos outros, com o objetivo de readquirir sua saúde através dos milagres do padre Cícero.
Membro de uma família com vários casos de esquizofrenia, Manuel Pedro informou à polícia durante seu interrogatório sobre a existência de 03 irmãs com problemas mentais. Uma delas, inclusive, certa época se apaixonara pelo padre Orlando dando muito trabalho ao reverendo até um dia se desvanecer da idéia. Essa mesma mulher chegou ao cúmulo da demência ao se apaixonar por um galo, o qual foi morto depois em virtude de sua indiferença para com ela.
No ano de 1945, o processo de esquizofrenia de Manuel Pedro atingiu níveis preocupantes. Ouvindo vozes com freqüência, alegava que ouvira de Deus a promessa de casá-lo com uma professora residente em Juazeiro de nome Maria Vilani. Essa tresloucada teofania vinha se repetindo com certa assiduidade. Afirmava Manuel Pedro que em conversa com o Altíssimo recebia orientações de como deveria proceder para realizar seu matrimônio.
Faz-se necessário informar que dona Vilani Rodrigues, embora separada do marido, era casada e longe estava de aceitar a proposta do louco. O que parecia no início apenas brincadeira de um desequilibrado foi se tornando, aos passar do tempo, uma ameaça perigosa devido à insistência dele em realizar seu propósito. Isto fez com que a referida senhora se dirigisse à delegacia de polícia para prestar queixas contra o Pé de Galo.
Em sua insana intenção, Manuel Pedro insistia para que o sarcedote marcasse a data do casamento. Devido a constante obstinação, certo dia o desvairado foi abruptamente expulso da casa paroquial, momento em que fez uma ameaça:
-“(...) daqui para 1950, o sangue vai dar na canela! Meu casamento vai ser feito        ou por Deus ou pelo diabo!” (07).
Pouco a pouco se foi formando uma imagem mental em Manuel Pedro de que o grande empecilho para o seu casamento se encontrava no Monsenhor Joviniano. Além do mais, para os romeiros, o Monsenhor era um inimigo declarado dos “Milagres de Juazeiro” e havia humilhado o padre Cícero em praça pública em 1917. Formou-se então, no pensamento do louco, um binômio perigoso: a desobediência à voz de Deus por parte do Monsenhor Joviniano e a inimizade dele para com os romeiros. A sua esquizofrenia aguda o levou a um veredicto fatal: o vigário deveria morrer!
Era um sonho antigo do Monsenhor Joviniano Barreto trazer para Juazeiro outras congregações sacerdotais. A realização de seus desejos foi concretizada no dia 06 de janeiro de 1950, quando do lançamento da pedra fundamental para a construção da igreja de São Francisco. Nesse dia festivo e de grande satisfação para o Vigário, ele celebrou missa, fez confissões e recebeu a visita de seu irmão Juvêncio Barreto.
Para maior gáudio seu, inúmeros padres da região compareceram à festa e a presença do Bispo Dom Francisco Pires veio a culminar a solenidade. Foi, decerto, um dia excepcional para a vida do Reverendo.
No final da tarde após a colocação da pedra fundamental do seminário franciscano, os visitantes já se dispersavam. Após se despedir de Dom Francisco que já entrara no carro com intuito de voltar ao Crato, Monsenhor Joviniano foi abordado por dois seminaristas. Quando um deles, de nome Geraldo Vieira, se inclinou para lhe beijar a mão, eis que inopinadamente surge a figura monstruosa de Manuel Pedro que de chofre encrava uma peixeira no peito esquerdo do Monsenhor Joviniano!Com o coração perfurado, o Reverendo cai de joelhos e ali mesmo morre incontinenti!
A consternação tomou conta de todos. Diante de uma platéia atônita, perplexa, o louco corre sem rumo. Perseguido imediatamente é preso e confessa o motivo do bárbaro crime: o Monsenhor não obedecera à voz de Deus!

NOTAS
1-     - Ralph Della Cava in Milagre em Joaseiro pág.59 – editora Paz e Terra - Rio de Janeiro 1976. Falando sobre a desconfiança do povo contra os padres, nos diz;
“(...) durante a grande seca de 1877/1879, surgira uma animosidade contra os lazaristas. Lá chegaram os padres estrangeiros,em 1875, para inaugurar e compor o corpo docente do Seminário do Crato. Com a mortandade provocada pela seca de 1877, fugiram do interior, para espanto dos moradores do Vale, em troca da segurança oferecida pela capital. (...)”.
 2-     Ralph Della Cava o.c.pág. 55 afirma:
 “Enquanto o bispo buscava apoio no Direito Canônico, sua decisão interlocutória era violentamente contestada no Cariri. Nove dias depois de ter chegado ao Vale, cinco padres e 34 cidadãos enviaram uma petição, formalmente, a Dom Joaquim pleiteando a rescisão daquela deliberação”. (...).
3-     Amália Xavier de Oliveira in Dados que marcam a vida do padre Cícero Romão Batista pág.16 – Juazeiro do Norte 1983.
4-     Padre Néri Feitosa in Monsenhor Joviniano Barreto pág.26/27 – Crato-Ce 1966
Afirma o escritor que através de mensagem escrita, anônima, se indispôs a pessoa do monsenhor Joviniano contra o povo:
“(...) Romeiros, vejam uma humilhação horrorosa que o Monsenhor Joviniano fez com o Padre Cícero: em 1917, o Monsenhor Joviniano chegou aqui com Dom Quintino e levou o Padre Cícero para a Praça da igreja, onde o reverendo Padre Cícero foi obrigado a subir numa tribuna e desdizer publicamente os milagres de Juazeiro.”
5-    Amália Xavier de Oliveira – O Padre Cícero que eu conheci pág.266 - Rio de Janeiro 1969. A escritora narra a revolta dos fanáticos durante a proposta de derrubar a torre da igreja.
6-     Padre Néri Feitosa, o.c.pág.18 ao traçar o “Biograma Personativo e Apostólico” do monsenhor Joviniano Barreto, diz:
“- erigiu um altar a Cristo-Rei na Matriz, onde fazia os casamentos, apesar da repugnância dos ignorantes;”
7-     Padre Néri Feitosa, o.c.pág. 24.
BIBLIOGRAFIA
Cava, Ralph Della. Milagre em joaseiro. Rio de Janeiro.Paz e Terra         1976.
Feitosa, Padre Néri. Monsenhor joviniano barreto.Crato 1966
Oliveira, Amália Xavier. O padre Cícero que eu conheci. Rio de     Janeiro 1969
Oliveira, Amália Xavier. Dados que marcam a vida do padre Cícero       Romão batista
Juazeiro do Norte, 1983.

e-mail:fernando_nobrega10@hotmail.com

CORONEL ARITISTIDES FERREIRA DE MENEZES (Primeiro gestor do Juazeiro do Crato e sua descendência)

Por Fernando Maia da Nóbrega

Aristides Ferreira de Menezes, mais conhecido em seu tempo como “Seu “Aires, embora tenha sido um dos líderes mais marcantes da proto-história juazeirense é pouco citado pelos escritores conterrâneos. Foi agropecuarista, advogado licenciado, promotor, coronel da Guarda Nacional, deputado provincial e teve ação preponderante no desenvolvimento do primitivo povoado de Juazeiro. Parte de sua numerosa descendência é encontrada no Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha e Fortaleza.
Nascido na “Princesa do Cariri” em 1852, foram seus pais José Ferreira de Menezes e Ana Bezerra de Menezes (01). Casou-se com Ana Leopoldina Maia (02), com a qual teve treze filhos (03) e faleceu em sua cidade natal em 19 de outubro de 1911 (04).
Coronel Aristides,como frisamos anteriormente, exerceu diversas funções de importância no Cariri. Além de proprietário dos sítios Porteira e Baixio do Muquém, próspero pecuarista e dono de engenhos, foi advogado provisionado “de relativa projeção no foro do sul do Estado” (05). Como político desempenhou diversos cargos públicos relevantes: secretário da prefeitura, promotor do Crato, deputado provincial para o período de 1884 a 1888(06). Nessa época, o Ceará mantinha um congresso bicameral: com 12 senadores e 24 deputados. O coronel Aristides foi postulante ao senado em 1892 não sendo eleito, porém. Em todo caso, a candidatura ao senado do estado demonstra importância dele na política regional (07).
Sua presença na primitiva história de Juazeiro foi marcante. Acompanhou fielmente o coronel José Belém de Figueiredo, prefeito do Crato (até sua deposição em 1904), sendo por este nomeado o primeiro gestor do povoado de Juazeiro. (08), Não somente transações política prendiam o coronel Aristides ao novel povoado. Havia fortes ligações de parentescos. O padre Cícero, além de seu amigo, era primo de sua mulher e seu filho Paulo Maia casado com uma filha do coronel Joaquim Inácio de Figueiredo, eminente político de Juazeiro. Amalgamando tais fatores, foi o coronel Aristides a mola propulsora de vários benefícios e obras realizadas no distrito.
A inexistência de ensino público agravava de sobremaneira o subdesenvolvimento local, haja vista que a alfabetização era realizada de forma particular nas casas ou fazenda da região. Atendendo as reivindicações do padre Cícero, o coronel Aristides conseguiu professores para o município o que veio a impulsionar o setor educacional.
Graças à liderança e força política de “Seu” Aires, obteve apoio de outros líderes do município, entre os quais, Joaquim Inácio de Figueiredo, coronel Joaquim da Rocha, José Pereira da Silva e o coronel Antonio Landim, e com recursos próprios deram prosseguimento as obras paralisadas do mercado. (09). Tempos depois, com a transferência do centro comercial para a rua Padre Cícero, o mercado foi abandonado servindo,porém,de cadeia publica e,posteiormente, para abrigo de desvalidos sociais que perambulavam pelas ruas.
Mercado Público de Juazeiro

Também partiu do coronel Aristides uma obra de notável alcance social para aquela época: construiu uma cacimba, completamente forrada, tipo poço amazonas, para uso gratuito do público. Conforme afirma o escritor Otavio Aires, a serventia era de tal monta que o poço passou a ser cognominado de “Cacimba do Povo”.
Também, a pedido do padre Cícero, o coronel Aristides doou a madeira para construção e cobertura da igreja do Horto (10).
Em 1904 sob efervescência política no início do século XX no Ceará, houve a deposição do coronel José Belém de Figueiredo e um episódio de graves consequências: o delegado Nazário Landim agrediu a golpes de vareta de espingarda o ancião Aristides Ferreira de Menezes. Tal ato teve duras sequelas quer imediatas, como posteriores. No dia da nefasta agressão, Paulo Maia, filho de Aristides, surrou violentamente o delegado. Esta atitude , anos mais tarde,culminou com o assassinato de Paulo Maia,mais precisamente em 09 de junho de em 1914.Conforme a cultura daquele tempo,coube a Pedro Aires, irmão de Paulo,em 1928, assassinar Nazário Landim .Também por decorrência desse ato de desmoralização sofrido, coronel Aristides se isolou,até da família, no sítio Muquem vindo a falecer em 1911(11)
A descendência do coronel Aristides Ferreira de Menezes se espalhou por todo o Cariri predominantemente no Crato, alguns em Juazeiro do Norte, Missão Velha e Milagres. (12).
Como o presente trabalho destina-se a narrar um pouco da história de Juazeiro, nos prendemos aos descendentes de “Seu” Aires que se fixaram definitivamente na terra do padre Cícero. E foi da vertente de Paulo Maia de Menezes, casado com Aurora Adélia Sobreira de Figueiredo que criou raízes em Juazeiro do Norte ao unir as famílias Maia,Sobreira e Figueiredo, razão pela qual traçamos uma breve genealogia .

Paulo Maia Ferreira de Menezes c.c. Aurora Adélia Sobreira de Figueiredo

F1: José Maia (Zezé) c.c. Maria do Socorro


F2 Odilon Figueiredo c.c. 1 Adalgisa Teodomira Gomes (Santinha)
c.c. 2 Carmina Cruz

F3 Doralice Figueiredo c.c. Alfredo dias da Cruz

F4 Almerinda Figueiredo Maia c.c. Antonio Adil da Nóbrega

F5 Argemiro Figueiredo Maia c.c. 1 Aluisio Caldas
c.c. 2 José Lira (13)

Por sua atuação na história inicial do Juazeiro, pelas benfeitorias realizadas e pela descendência de mais de 50 netos e centenas de bisnetos e trinetos residentes em nossa cidade, coronel Aristides Ferreira de Menezes precisa ser conhecido e deve ter seu nome incrustado no rol daqueles que fizeram o Juazeiro primitivo.

Notas:
01- Menezes, Otavio Aires in “O Joaseiro antigo- Historia do padre Cícero, seu povo e sua cultura”. Fortaleza Gráfica LCR 2012 pag. 66
02- O.C. Idem, pg 59

03 Treze foram os filhos do coronel Aristides:
F1 – José Aires c.c. Maria Lobo
F2- Amélia Aires solteira
F3 - Fausta Aires c.c. Albano Capibaribe
F4 – Rubens Aires c.c. 1 Vicência sátiro da cunha
.c. 2 Maria Almeida
F5- Raimundo Aires c.c. Raimunda Vieira
F6- Paulo Maia c.c. Aurora Adélia Sobreira de Figueiredo
F7 – João Aires c.c. Maria Fernandes
F8 - Pedro Aires c.c.Luiza Paula Vieira
F9- Maria Aires c.José sátiro da Silva
F10-Ana Aires c.c.Alfredo Moreira Maia
F11- Julio de Menezes c.c. Maria Celestino Maia
F12-Alfredo Aires Solteiro
F13-Fantina Aires Solteira
Nota do autor 1: Esclarecemos que essa relação é a apresentada por Lourival Maia Lima in ‘OS MAIA’ pg19 que corresponde à mesma listada pelo Barão de Studart in Dicionário Bibiográfico Cearense pg.305. Já Bruno de Menezes in “Revista Itaytera nº5 pg. 177/178 apresenta como mulher de Pedro Aires Dionísia Luisa de Oliveira, diferentemente de Lourival Maia Lima que nomeia como esposa Luiza Paula Vieira”.

Nota do autor 2 – A maioria dos filhos do coronel Aristides passou a adotar o sobrenome Aires, forma sincopada do nome do pai. Entretanto, o sobrenome correto era Maia de Menezes ou Maia Ferreira de Menezes. Somente Paulo e Julio adotaram esse ultimo.
04-Dicionário Bibibliográfico Cearense. Studart, Guilherme e Studart, Newton Jaques pg. 307.
05– Studart, Guilherme. O.C. pg. 306:
“Advogado provisionado, de relativa projeção no foro do sul do Estado.”
05 – Aires, Otavio oc. Pg.46
06 - Mota Aroldo História política do Ceará 1889-1930. Fortaleza, Stylus Comunicações, 1987 transcreve o decreto nº1 do governador Liberato Barroso.
“Art. 4º - O Congresso compor-se-á de trinta e seis membros, na forma da constituição promulgada a 16 de junho de 1891, e cada eleitor votará em duas cédulas, uma com doze nomes, com inscrição- Para Senadores, e outra com vinte e quatro, com inscrição, Para deputados” (pg.61).
Logo em seguida, pg.63, aparece a “ACTA” da eleição e na pg. 64 consta o nome de Aristides Ferreira de Menezes como um dos candidatos ao senado.
(07) Menezes, Bruno Revista Itaytera nº 5 pg. Crato, Ed. A Ação 1959 ao escrever sobre Aristides ferreira de Menezes afirma:
“(...) político acompanhou o coronel José Belém de Figueiredo até sua deposição”.
Em 1904; orador fluente e loquaz, fora o primeiro chefe da povoação de Juazeiro.
Do Crato (...)
08- Menezes, Bruno – Uma parcela da família Menezes do cariri. Revista Itaytera Ano V - Instituto Cultural do Cariri- Crato-CE 1959 pg. 177 informa:
“Orador fluente e loquaz, fora o primeiro chefe do então
Povoado de Juazeiro do Crato “

09) Aires Otavio O.C., pg. 72
(10) Aires, Otavio JUAZEIRO e seu legítimo fundador padre Cícero Romão batista –historia da cidade –crônicas pg.96.
11) Nóbrega, Adil trabalho ainda inédito de genealogia da família.
– Para esclarecimento informamos que Paulo Maia Ferreira de Menezes foi um importante membro para a independência de Juazeiro. Eis a relação dos seus netos, ressaltando que somente os filhos de Doracíla e Argemira não se fixaram em Juazeiro.
Paulo Maia Ferreira de Menezes c.c. Aurora Adélia Sobreira de Figueiredo

F! () José Maia (Zezé) c.c. Maria do Socorro
N 1 Paulo Maia N 2- Aurora Adélia N 3 Pedro N 4- Rosalvo (adotivo)

F2 - Odilon Figueiredo c.c. 1 Adalgisa Teodomira Gomes (santinha)
N 5 Paulo Herialdo N 6 Maria do socorro (Manina) N 7 Francisca Lucy
N 8 Alceu (Peu) N 9 Audisio

c.c. 2 Carmina Cruz
N 10 Roberto N 11 Alberto N12 Cícero

Os; Odilon teve outro filho com uma mulher que desconhecemos o nome
N 13 Edivaldo

F4 Doracíla Figueiredo c.c .Alfredo Dias da Cruz

N 14 Djalma N 15 Tertulino N 16 Doraci N 17 Socorro N 18 Marisa N 19 Alfredo N 20 Pedro Geraldo N 21 Vera Lúcia
N22 Mirian N 23 Lúcio Flávio


F5 Almerinda Maia c.c. Antonio Adil da Nóbrega
N 24 Sebastião Wilson N 26 Leonam N 26 Aurora N27 Paulo Pedro
N 28 Fernando N 29 Everardo N 23 Onélia N31 Beethoven (adotivo)

F6 Argemira Figueiredo Sem filhos

Nota do autor 3 – Sobre a agressão sofrida pelo coronel Aristides há fartas versões nas obras citadas acima. Quem se interessar por pormenores leia artigo Paulo Maia, de minha autoria, em Portal de Juazeiro, blog história de Juazeiro.

B I B L I O G R A F I A
Lóssio,Moacyr Gondim ”Iniciação à História do Cariri” s/data
Macedo,Nertan, “O Padre e a Beata”2ª Ed. 1981
Lima, Lourival Maia. “OS MAIA´ Crato-Ce. s/data
Mota,Aroldo. “História Política do Ceará 1889-1930”.Fortaleza 1987
Menezes,Otavio Aires “JUAZEIRO e seu legítimo fundador o padre Cícero Romão Batista
História da cidade Crônicas. Fortaleza 2012
Menezes,Otavio Aires “O Joaseiro Antigo – história do Padre Cícero,seu povo
E sua cultura – Crônicas. Fortaleza,2012
Menezes,Paulo Elpídio. “O Crato do meu tempo” Fortaleza 1985
Sutudart, Guilherme Chambly & Studart,Jacques Sutudart. “Dicionário Bibibliográfico
Cearense” 2ª Ed. Vol 10 Fortaleza s/data
Revista Itaytera,Vol V Crato 1959

Alfeu Aboim - Por Renato Casimiro




ALFEU RIBEIRO ABOIM. Alfeu Ribeiro Aboim é uma figura esquecida, ainda não homenageado em qualquer logradouro da cidade. Em Fortaleza, ele é patrono de uma rua do bairro Papicu. O fato é que Alfeu Aboim ainda é um senhor desconhecido para a grande maioria dos juazeirenses. Alfeu Ribeiro Aboim nasceu em Sergipe, no dia 09.02.1879, filho de Gabriel Florentino da Mota Aboim e de Adelaide Josefina da Mota Aboim. Em 1893, aos 14 anos, seguiu para o Rio de Janeiro a fim de cursar a Escola Militar ali existente, transferindo-se depois para Fortaleza, onde continuou os seus estudos no Colégio Militar do Ceará, até o ano de 1897. Nesse mesmo ano abandonou o curso para se alistar como voluntário na 4ª. Expedição de Canudos, contra Antônio Conselheiro, na qual lutou até o final. Posteriormente, no Ceará, ocupou inúmeros cargos públicos, trabalhando em diversas cidades interioranas. Foi funcionário da Secretaria da Fazenda Estadual, destacou-se como jornalista escrevendo nos principais periódicos da capital. Como jornalista também foi proprietário de um tradicional jornal cearense: O Estado. Fundado sob os auspícios do Partido Progressista, foi durante alguns anos editorado pelo Dr. José Martins Rodrigues. O Estado foi mais tarde vendido aos jornalistas Alfeu Ribeiro Aboim e Valter de Sá Cavalcante. Em 1945, com a fundação do Partido Social Democrático (PSD), Alfeu Aboim transferiu sua parte na empresa ao banqueiro Antonio Gentil, ficando o apreciado periódico sob a direção do jornalista Valter de Sá Cavalcante, defendendo os interesses desse partido. Quando trabalhou em Camocim, foi representante da Folha do Litoral. Dedicou-se também à política e exerceu o cargo de prefeito nas cidades de Quixadá (de 20.03.1915 a 12.07.1915), Aracati, Sobral e Juazeiro do Norte, tendo sido por muitos anos amigo pessoal do Padre Cícero Romão Baptista, embora se diga que politicamente ocupavam posições antagônicas. Quando da sucessão municipal de José Eleutério de Figueiredo, em 1929, na Prefeitura de Juazeiro do Norte, Padre Cícero apresentou Alfeu Aboim como seu candidato. Elegeu-se com 699 votos, pelo Partido Republicano Conservador, contra João Bezerra de Menezes, com 20 votos, pelo Partido Democrata. Cumpriu mandato de 01.09.1929 a 17.10.1930. Getulista declarado, sofreu, por esta razão, perseguições políticas movidas pelo então presidente (governador) José Carlos de Matos Peixoto que, em 1929, articulou sua deposição da prefeitura de Juazeiro do Norte, deposição que não aconteceu, graças ao prestígio político e social de que desfrutava. Com a Revolução de 30, foi deposto e a administração do município foi entregue, pela Interventoria de Fernandes Távora a José Geraldo da Cruz, que ficou como interventor municipal, de 17.10.1930 até 28.07.1933. Casado com Maria Faria de Aboim (Maroca) (1882-1957), geraram nove filhos, dos quais apenas quatro sobreviveram, na seguinte ordem: Branca, Eliseu, Iracema e Leonor. Alfeu Aboim conheceu, ainda muito cedo, a doutrina espírita, provavelmente quando estudava no Colégio Militar  do Ceará. Foi, provavelmente, um dos lídimos pioneiros espíritas no Estado. Foi, no biênio 1921-1922, primeiro secretário do Centro Espírita Cearense, na gestão do comerciante Gervásio de Castro e Silva, da qual também fizeram parte Manuel Ricardo de Melo (um dos fundadores do Centro) e João Carlos da Silva Jatahy, o grande abolicionista. Nos anos 30 escreveu artigos de cunho espiritista nas principais folhas de Fortaleza, especialmente no jornal O Povo, fundado por seu amigo Demócrito Rocha. Alfeu Aboim foi maçom emérito, orador oficial da sua loja e ocupou o grau 31 no Grande Oriente do Brasil. Faleceu em Fortaleza no dia 13.05.1962, aos 83 anos.
Professor José Marrocos - Por Daniel Walker
JOSÉ JOAQUIM TELES MARROCOS nasceu na cidade de Crato no dia 26 de novembro de 1842 e faleceu em Juazeiro em 14 de agosto de 1910. Estudou no Seminário da Prainha, em Fortaleza, mas não conseguiu ser padre. Afastado do Seminário, dedicou-se ao magistério. Fundou escolas em Crato, Barbalha e Juazeiro, prestando, assim, relevantes serviços à juventude caririense. José Marrocos destacou-se também como jornalista e abolicionista. Escreveu em vários jornais do Rio de Janeiro e de Fortaleza, defendendo com destemor a extinção da escravatura. Vitoriosa a causa abolicionista, continuou no jornalismo caririense com participação brilhante, notadamente no jornal "O Rebate", pioneiro da imprensa juazeirense, onde ao lado do Pe. Alencar Peixoto e Dr. Floro Bartolomeu trabalhou pela emancipação política do então povoado de Juazeiro. Foi o maior defensor dos fatos ocorridos em Juazeiro no final do século passado, na pessoa da beata Maria de Araújo. Neste particular, José Marrocos mostrou extraordinária competência. Por conta desses fatos, de onde resultou uma famosa polêmica religiosa, foram traduzidos em italiano e enviados para Roma, por parte de Juazeiro, diversos documentos (cartas, pareceres, depoimentos, etc.) referentes aos chamados "milagres". E segundo o historiador cratense Irineu Pinheiro pode afirmar-se, sem receio de erro, que o tradutor foi o professor José Marrocos, único homem, naquele tempo, capaz de, por sua amizade ao Padre Cícero, e sobretudo por sua cultura, desempenhar essa missão de evidente responsabilidade, principalmente pelas questões teológicas que envolvia.
   José Marrocos era pessoa muito querida em Juazeiro. No dia de sua morte, mesmo sendo dia de feira, o comércio parou. O seu sepultamento foi muito concorrido. O Cariri prestou-lhe significativas homenagens em reconhecimento ao seu trabalho.
DEPOIMENTOS SOBRE JOSÉ MARROCOS
Dr. Floro Bartolomeu da Costa: "Ele foi um dos homens que melhor e com mais superioridade cumpriu o seu destino na sociedade de seu tempo."
Pe. Alencar Peixoto: "Cada linha de sua vida é um poema de ensinamentos grandiosos; cada traço de seu vulto amorável um mundo de insignes valores por onde se moldam a inteligência, a vontade, o amor, a dedicação, o sacrifício, a piedade! Cristão divinamente piedoso. Espírito de equidade. Educador exímio. Jornalista de pulso. Teólogo abalizado".
Dr. Fernando  Távora: "Foi um grande jornalista, e bateu-se denodadamente pela redenção dos cativos. Era um competente professor latinista".
Raimundo Gomes de Matos: "Nunca vi homem mais modesto, mais religioso, mais temente a Deus. Seu oratório tinha uma lâmpada de óleo eternamente acesa e, ao pé do mesmo, ele se ajoelhava e orava várias vezes ao dia".
Profa. Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros: "Marrocos não é fanático. Em nenhum documento da "Questão Religiosa de Juazeiro", em parte alguma, ele é citado como fanático".

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